Ikal é o narrador deste livro, um dos onze guerreiros do arco-íris, heróis desta história passada numa longínqua ilha da Indonésia. O autor, um jovem escritor indonésio, quis, com este livro, falar da sua experiência pessoal numa escola muito pobre da ilha de Belitong, paradoxalmente riquíssima em estanho. Em 2004, quando no final de uma campanha de apoio às vítimas do tsunami, viu em Aceh uma jovem mulher empunhando um cartaz que dizia "Venham. Não desistam da Escola" decidiu cumprir uma promessa que tinha feito a si próprio de escrever sobre a sua experiência escolar e de vida, a qual só foi possível devido à persistência e total empenhamento da professora e do director da escola.
Numa comunidade muito pobre em que a maioria dos seus habitantes não tinham noção de que a educação é um direito humano básico, tudo começou quando dez pais foram capazes de quebrar o ciclo de pobreza e de ignorância enviando os seus filhos para a escola. Todo o desenrolar da acção é uma luta constante para que a pobre escola não feche ou seja derrubada pelas máquinas da grande empresa de prospecção de estanho. A firmeza, a determinação, a convicção para que os sonhos sejam realidade, a entreajuda e a solidariedade, o exemplo e aposta no que de melhor há nos seres humanos para se superarem são os ingredientes que permitiram àqueles dois professores manter a escola de pé e instruir e dar dignidade àqueles meninos e meninas.
Para além do estudo, aquelas crianças aprendem com a observação da natureza, são felizes e brincam com o que a natureza lhes dá, descobrem as suas potencialidades e usam a sua criatividade no processo de crescimento e de aprendizagem. A descoberta do primeiro amor, o poder da literatura que leva o nosso jovem narrador a conseguir "viajar" para a longínqua aldeia de Edensor em Inglaterra, o papel de heróis tão mediáticos mas distantes como são Bruce Lee ou John Lennon são aspectos que fazem parte do processo de crescimento de Ikal. Sendo esta uma escola religiosa com uma missão muito marcada, é interessante a diferenciação das personagens na sua caracterização, na marca das suas personalidades pelos olhos e memória do narrador enquanto menino e passados alguns anos quando a vida o levou a reencontrar os "guerreiros do arco-íris" agora mais velhos e com percursos tão distintos daquilo que se poderia supor. A vida é feita de sonhos, de planos, de contratempos, de frustrações, de superação ou de derrotas, mas pelo menos aquela escola deu-lhes uma ferramenta muito importante: o pior de tudo é descrermos de nós próprios; é em nós que está a possibilidade de mudança.
A propósito da realidade social de pobreza versus riqueza que se vive na ilha de Belitong e na Indonésia de Suharto derrubado em 1998, o autor não deixa de fazer uma crítica à colonização holandesa e japonesa que sendo substituída pelo poder indonésio mantém no entanto uma postura colonial e feudal. O poder apenas muda de mãos, mas continua a proteger os ricos e os poderosos e a discriminar e esquecer os pobres e aqueles que não têm voz.
Sendo uma obra marcada por um forte optimismo e crença na imensa capacidade da humanidade em se superar e do papel da educação e da Escola para tal, fruto da experiência pessoal do autor a partir da sua escola, no fim do livro há uma vigorosa crítica ao materialismo e ao capitalismo que subverteu a essência da escola, tornando-a um meio para se obter fama e enriquecer, em vez de ser um meio de valorização dos indivíduos enquanto seres que aspiram ao conhecimento, ao progresso e à civilização.
Sintetizando, este livro é um elogio à profissão de(a) professor(a), um manifesto sobre o poder da escola e da educação, a sua capacidade de fazer com que as pessoas se atrevam a sonhar, a superarem-se e a ser obreiras do seu futuro, mesmo quando as adversidades são imensas e os recursos praticamente nulos.
Almerinda Bento
Sem comentários:
Enviar um comentário