"Os Anos", de Virginia Woolf, considerado por alguns a sua obra mais bela, não é um livro fácil dado o seu acelerado ritmo. Os capítulos sucedem-se com intervalos de décadas. Os que são jovens agora depressa deixam de o ser. Por outro lado as descrições dos cenários são feitas de uma forma tão poética que se tornam aliciantes e não se dá conta do tamanho da obra. É uma verdadeira saga familiar que acompanha várias gerações e simultaneamente usos e costumes da sociedade inglesa, abrangendo a época anterior à guerra (14-18) e prolongando-se no pós guerra, fazendo um retrato muito detalhado da vida em Londres desses tempos. O início da narrativa coincide com os últimos dias de vida da mãe dos principais personagens, ainda muito jovens, retratando o carácter de cada um deles. É uma reflexão sobre a mudança, o envelhecimento e as relações entre gerações realçando ainda os comportamentos e gostos de jovens e menos jovens nas várias épocas. Tem personagens snobs e não snobs, ricas e menos ricas, nobres e não nobres, ou seja os vários membros da família Pargiter desde 1880 até meados da década de 30 do século XX. Mas não é só sobre o mundo exterior que Virgínia Woolf se debruça, ela entra no interior das personagens e apresenta-nos com intensidade o seu lado mais complexo e menos visível.
À semelhança do início do livro, o fim é marcado também por um grande acontecimento. A família está novamente reunida, acrescida dos elementos mais jovens que personificam a consciência crítica da sociedade e do modo de viver narrados no livro e consequentemente da vida de seus pais e tios, mas defrontando-se eles próprios, ainda, com alguns problemas existenciais. Dos vários diálogos e monólogos transparece um confronto de gerações inevitável. A não compreensão dos mais novos pela conformidade dos mais velhos na sua ilusória felicidade, não tendo eles, mesmo assim, encontrado um verdadeiro sentido para as suas vidas.
É um romance belo e lírico que me foi cativando de capítulo em capítulo à medida que avançava na sua leitura, principalmente nesta segunda leitura passados que foram alguns anos da primeira. Interessaram-me muito as relações dos que já tinham sido novos no início do romance, com os seus agora jovens parentes e foi com muito interesse que apreciei as suas conversas e trocas de pontos de vista, com as inevitáveis diferenças de gostos e maneiras de pensar. Os tempos foram sofrendo na realidade grandes transformações e o impacto nas personagens foi como não podia deixar de ser muito marcante. Virgínia Woolf com a sua enorme sensibilidade e mestria construiu uma obra a não perder .
Maria Fernanda Pinto
Falta-me ler este.... mas não mevai escapar!!!!
ResponderEliminarTeresa Carvalho