Gosto de livros, de paisagens, de pensamentos, de viagens, de bichos, de corpos, de revoluções. Gosto da sensação de acordar todas as manhãs. Não gosto de dormir. Não gosto de gritos, de coca-cola, de azares, de religiões, de estereótipos.
Encantei-me por Edgar Allan Poe, ainda miúda. Mais tarde, por Henry Miller e, por fim, Julio Cortázar. São paixões-amores, eternos. Como eterna há-de ser a vontade de criar outras cabeças. Vidas. Muito novinha quis estudar teatro, depois desejei ser escritora. Ainda o desejo. Acabei por esbarrar em histórias no jornalismo. Vivo a vida como imagino os livros: misturando ficção e realidade. Gostava de ser andarilha, mas acabei por criar raízes. Amo a minha família. Optei pela árvore em vez do pássaro. Mantenho as asas, apesar de continuar prisioneira da inquietação; atormentada pelo terror psicológico de Poe, fascinada pelo lado vagabundo de Miller, enterrada na magia de Cortázar.
"Esta noite não aconteceu", lançado pela Oficina do Livro, é o meu primeiro romance a sério. Outras tentativas houve e haverão. Escrever é estar comprometido, envolve disponibilidade, entrega. Há diferentes motivos para se querer escrever. Para mim, é um lugar de respiração. Interessa-me na literatura a luta entre o bem e o mal, a abnegação e o desejo, a ordem e a desordem. Dr Jekyll and Mr Hyde.
Respeito o passado, do futuro tenho receio. Sei que não há nada que resista ao tempo e isso dá-me alento. Não deixo de namorar todos os dias o céu, mesmo sem ele saber sequer que eu existo.
Sónia Alcaso
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