Origem
e Ruína é a minha interpretação pessoal do mito de Adamastor,
no seguimento da sua primeira adaptação ao universo literário
português, através da obra épica de Camões. Em Os Lusíadas,
Adamastor é um monstro que, numa trama passional, se viu ludibriado
pela ninfa Tétis, acabando as forças divinas por o transformar num
penedo ameaçador. Adamastor sofre de amor, portanto. Em Origem e
Ruína, a minha versão de Adamastor surge metamorfoseada num
personagem negro, angolano, que apanha o processo de descolonização
aquando dumas “férias graciosas” na Metrópole. A partir daqui o
angolano de nascença opta pela nacionalidade portuguesa, emigrando
posteriormente para a América do Sul, levando toda a sua angústia
amorosa, todas as suas ardilosas congeminações e decadências
hedonistas para uma Venezuela recheada de lusofonia, espalhando a
Diáspora num modo bastante inesperado e, digamos, sui generis.
Inspirei-me
nas recordações do meu pai para criar este novo Adamastor.
Enigmática tal como o personagem principal do romance, apenas travei
conhecimento com a minha figura paterna durante quatro escassas
oportunidades, sofrendo com isso os habituais estigmas de filho de
“pai ausente”. Esta foi a força motriz que me levou a escrever o
livro, bem como toda a saga levada a cabo pela minha mãe – a
personagem Lena – para resgatar Adamastor de uma errância
longínqua e desconexa, tentando salva-lo da falta de sentido
espiritual e amoroso na sua vida.
Deste
modo, decidi interligar uma cosmogonia muito particular através de
toda a narrativa de Origem e Ruína, alargando a simetria do
enredo da história dos meus pais para dimensões cósmicas e de pura
ficção científica. Tomei por base a minha paixão por este género
de literatura e a devoção quase religiosa que voto à série de
Banda Desenhada O Vagabundo dos Limbos, da autoria de
Christian Godard e Julio Ribera. E foi assim que
brotaram as ideias do Senhor de Toda a Calma, e da eterna luta
entre o Ser Racional e a Criatura do Instinto para se
mesclarem numa simbiose inflamada entre o Caos e o Cosmos.
Nasci
em Coimbra em 1976, e, simultaneamente aos livros, sou actor
profissional, área artística onde trabalho com o Ricardo Vaz
Trindade e a pianista Joana Gama, formando a companhia
Esticalimógama. Fui também marinheiro da Armada durante 14
meses no Navio-Escola Sagres, e pretendo que os meus próximos
romances sejam sobre essa experiência singular a bordo da “Embaixada
Itinerante”. Tenho muito para vos contar acerca da tão badalada
paixão marítima deste nosso aventureiro e tão barbaramente
ganancioso “jardim da Europa à beira-mar plantado”...
Entrevista no programa Mar de Letras, emitido na RTP2, RTP África, RTP Internacional e RTP África http://www.rtp.pt/play/p842/ mar-de-letras
Paulo Lima
Está a cada dia mais interessante este "Nosso Cantinho" que dá pelo nome de "Blog da Cris" e que vem conjugando todo o tipo de "Escrita" e Escritores".
ResponderEliminarAo Paulo Lima, que conheço pessoalmente, estendo a passadeira vermelha, já devidamente ornamentada de ambos os lados por figuras ilustres. Engravatados.Povo. Rapers. Damas belas, estas, de flores no cabelo e vestidos brancos, salientando-se a beleza no rosto e no coração. Nos olhos, a imensidão dos mares. Ali assistem também elas à entrada de Paulo Lima e têm nas mãos troféus estilizados que lembram todos e os mais importantes equipamentos conhecedores das brisas marítimas..
Paulo Lima sempre me surpreendeu pelo talento. Pelo conhecimento. Pela boa disposição, e por essa mágoa a que não escapou na apresentação que aqui fez - "filho de pai ausente".
Conheço os esforços da sua mãe. Eu próprio provoquei esse sentimento em corações, um dia pequeninos. Hoje adultos. É um sentimento a que não conseguimos escapar. Seu pai, Angolano, não fazia de propósito. Ser-se Angolano fora de Angola, não nos deixa escolha. É permanente "essa uma, estranha inquietação"
Mas já me desviei da "passadeira vermelha". E hoje é o dia em que recebemos, aqui, no Blog da Cris, tão ilustre tripulante do Navio Escola Sagres. Só isto bastaria para lermos e escutarmos o discurso que agora se inicia em - "Origem e Ruína" - e que mais tarde, pelo que Paulo Lima aqui nos prometeu, içará as velas.
Mas por enquanto Paulo Lima, que não se lhe fraquejem as pernas. É que ao cimo da escadaria e ainda mesmo antes que inicie todas essas narrativas, a musa mais bela espera-o com a réplica dourada do mais eloquente navio que não deixa que morra a memória de quem somos - a caravela
Após a vénia da musa, ou ainda mesmo antes dela, quase enlouquecerá perante tal beleza. Despida das vestes tribais mas vestida das rendas e do suave linho que os poetas sempre dizem que ainda ontem, nos campos, era flôr, a musa, sem Continente, simbiose de Lusíadas e Soneto. E, logo de seguida, lhe entregará a preciosa miniatura da caravela. E nesse momento, atento, Paulo Lima, lhe garanto que ouvirá no ouro do casco dela, o tilintar do amuleto que a musa pendurou ao peito relembrando Xingu, bem no interior da América do Sul. Na latitude das rotas secretas do ouro. E no nervosismo que sempre tais cerimónias geram, verá que no pulso dela, se encravará também na pulseira, a passagem da caravela. Pelo lado mais saliente dela. O leme. Uma pulseira em pelo de elefante em que se destaca, misterioso e insinuante, um búzio. Um búzio da praia mais a norte da Baía dos Tigres. Onde o mar toca o deserto e as aves é que decidem o pôr do sol. E então dos lábios dela ouvirá, trémulo e irrequieto, um pedido de desculpas. Irrequieto mas firme. Decidido. E contradizendo o que se diz, o verde azeitona dos olhos dela se revelará terno. Genuíno. Relembrando, ao entardecer, o verde silencioso e extenso dos olivais. E uma vez mais para si Portugal nela se revelará deslumbrante.
Actor, Paulo Lima, receberá este troféu, a prova de que entrou no "Blog da Cris", e recordará este momento de tensão num cerimonial em que quis ser Actor mas em que não sabe se o foi ou se não. A musa foi quem lhe entregou o troféu e o que de melhor ela guardou no coração - a História. E para ela mais um "Escritor" chegou, capaz de lhe dar voz. De transbordar pela palavra tudo aquilo que ela sente e que sempre quis dizer. Não é à toa que se é Actor. São tantas vidas numa vida só e o sentimento sempre é quem fala mais alto. Bem vindo Paulo Lima. Muitos Angolanos aqui virão para o conhecer.
Aguardamos com expectativa a entrevista que deu na RTP África e que aqui deixo como anúncio - "no próximo dia 17, na RTP África, a não perder. a entrevista de Paulo Lima no programa - Mar de Letras".
Aquele Abraço Angolano,
Júlio
Obrigado Júlio! Abraço angolano! O meu exemplar do seu livro ainda n está assinado por si, temos que tratar disso quando nos encontrarmos de novo...
EliminarTenho a dizer que acabei ontem as derradeiras corecções do meu próximo romance "Fernão Mendes Pinto tinha razão!", (320 páginas) uma obra que escrevi em 2009, e que descreve uma viagem efectuada a bordo do Navio-Escola Sagres através de várias ilhas de de Cabo Verde... Saravá!
Paulo Lima
Um livro para ler com atenção!
ResponderEliminar