A proposta desta semana recai sobre um pequeno livro de Eric-EmmanuelSchmitt intitulado “O Senhor Ibrahim e as Flores do Alcorão” que nos deixa completamente rendidos após a leitura das primeiras páginas.
Com o tema da 2ª Guerra Mundial a servir de pano de fundo num dos pontos nevrálgicos do livro, o pequeno Momo, um judeu, acaba por ser adotado pelo senhor Ibrahim, um merceeiro árabe, após a morte do pai da criança.
Entre os dois começa a desenvolver-se uma amizade e cumplicidade assentes em valores religiosos de caráter universal que na verdade estão para lá do próprio Alcorão ou qualquer outro livro considerado sagrado.
À medida que Momo vai crescendo, vão sendo desvendados pequenos grandes mistérios da vida que alterarão por completo a sua forma de encarar o mundo, assim como todos aqueles que estão à sua volta, através de atos de bondade e profunda humanidade.
Também nós leitores somos chamados à reflexão mediante exemplos e situações concretas de que todos os seres humanos são iguais perante Deus do mesmo modo que cada pessoa ocupa um papel determinante na família e sociedade que integra em virtude da sua capacidade de poder vir a tornar-se um estandarte de felicidade independentemente de qual seja a religião de cada um, já que esse é outro dos pontos-chave do livro na medida em que o autor consegue de um modo muito terno e quase utópico abraçar várias religiões monoteístas pondo-as a dialogar umas com as outras.
“O Senhor Ibrahim e as Flores do Alcorão” é um pequeno livro cuja leitura fica concluída em menos de duas horas, porém é um daqueles livros que sentimos rapidamente vontade de o reler ainda que dificilmente o esqueçamos.
Uma pérola a não perder!
Excertos:
“- O teu amor por ela está no teu interior. Pertence-te. Mesmo que o recuse, não há nada que possa fazer para o mudar. Ela não usufrui dele, ponto final. Aquilo que tu dás, Momo, será teu para sempre; o que guardas perder-se-á para sempre!” (p. 40)
“Fazíamos muitas brincadeiras. Ele obrigava-me a entrar nos monumentos religiosos com os olhos vendados para eu adivinhar a religião através do cheiro.
- Aqui cheira a velas, é católico.
- Acertaste, é Santo António.
- Neste cheira a incenso, é ortodoxo.
- Certo, é Santa Sofia.
- E aqui cheira a chulé, é muçulmano. Espere, não é bem isso, que horror, que cheiro tão desagradável.
- O que é que tem? Estamos na Mesquita Azul! Um lugar que cheira a suor não te serve? Os teus pés nunca cheiram mal? Repugna-te um local de oração feito para os homens? Um local que cheira a gente, com gente dentro? És mesmo menino da cidade, tu! A mim tranquiliza-me, este cheiro a pés. Faz-me sentir que não sou melhor nem pior do que o meu vizinho. Sinto o meu cheiro e sinto o cheiro dos outros. Sinto-me logo melhor.
A partir de Istambul, o senhor Ibrahim falou menos. Estava emocionado.”
(pp. 58-59)
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