As sensações que esta leitura me trouxeram não as vou esquecer tão cedo. Esta história vai ficar durante muito tempo no meu coração. Digo coração porque a memória de galinha que possuo não me vai permitir narrá-la com pormenores durante muito mais tempo mas, isso não é o motor que me leva a pegar num livro. Nunca costumo narrá-lo a alguém pois os spoilers estragam o prazer que outros podem beneficiar com as leituras que recomendo.
Depois de muito o recomendar, houve quem me dissesse que o tema abordado nesta obra não é inédito e que outros livros também se serviram dele como base para as suas histórias, inclusive o nosso Nobel Saramago! Fiquei curiosa em ler mais sobre o assunto para ver se é tratado com a mesma mestria que Daphne o fez.
Então, como o título deixa antever, trata-se de uma história em que dois homens desconhecidos se encontram. A especificidade aqui é que eles são "duplicados", iguais sem serem irmãos nem tampouco gémeos. Até o nome próprio se assemelha embora sejam de nacionalidades diferentes: um é francês (Jean) e o outro britânico (John).
O narrador é Jean, professor solitário, sem família, triste com o emprego que possui. Jean, pertence a uma família com linhagem, é rico. Cruzam-se numa estação de comboio, pormenor que creio ainda lembrar-me. Algo se passa que não vou revelar e trocam de vidas. É o ponto de partida para uma história muito bem contada, pela qual fiquei presa de imediato tanto pela forma como é contada (o leitor consegue colocar-se dentro do narrador) como porque me senti muito próxima de Jean. Personagem principal muito bem caracterizado!
Os capítulos finais são muito intensos, a ansiedade devorou-me, e o final não é previsível nem aquele que, um lado de mim, gostaria de ter lido. O outro eu, a outra metade adorou! Achei sublime (confesso que fiquei muito irritada também! Não achei "justo"!). a mestria da autora a revelar-se...
Recomendo muitíssimo!
Terminado em 23 de Outubro de 2024
Estrelas: 6*
Sinopse
Quando dois homens iguais se cruzam numa estação de comboios, a realidade parece dar lugar ao que, hoje, podíamos chamar metaverso. Mas quanta daquela estranha ilusão pode, afinal, ser real? Numa estação de comboios, na província, John, o inglês, e Jean, o francês, veem-se e parecem estar, ambos, em frente ao espelho. A verdade, como percebem em poucos segundos, é que são idênticos, iguais - nem rasto de diferenças. As horas passam, e os dois sósias conversam e bebem animadamente, até John cair num absoluto e anestesiante torpor alcoólico. Porém, quando desperta, o inglês percebe que aquele pode bem ter sido o seu último momento de sossego: Jean roubou-lhe a identidade e desapareceu. E é então que John resolve tomar também o lugar do francês. Na nova vida de John, isto é, a de Jean, o inglês terá de desempenhar vários e estranhos papéis: vê-se dono de um château, dá por si a gerir um negócio à beira da falência e, pior, é a personagem principal de uma família pouco recomendável. Resumindo: John, perdão, o novo Jean é o grande senhor de nada. Hitchcockiano, imersivo e surpreendente, O Outro Eu é um livro que parte da ideia de duplo para questionar os conceitos de identidade e verdade, enquanto joga com o anguloso e menos solar lado da palavra «Eu».
Cris
Felizmente, ao contrário da publicação anterior, este livro marcou muito pela positiva :). Lembrei-me logo de "O Homem Duplicado", de Saramago, livro que li e gostei muito.
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