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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

"A Zona Interdita" de Mary Borden

Mal percebi qual o assunto deste livro e quando foi escrito, fiquei de olho alerta.

 Tinha de o ler! A autora, filha de um milionário, nascida em 1886 voluntariou-se para trabalhar durante quatro anos num hospital de campanha durante a 1ª Guerra, custeado e gerido por si. Escreveu muitos destes apontamentos nos períodos das suas pausas e noutros, já depois, quando se confrontava com as lembranças e recordações do que assistiu. São pequenos capítulos alguns muito intensos outros com uma prosa que chega a ser poética sobre algo difícil de digerir. O sentimento de medo que se alastrava junto dos combatentes, a sensação que imperava entre todos de que o caminho era só de ida e não havia volta possível, o facto do desespero fazer com que muitos se suicidassem mesmo sabendo que, caso não o conseguissem fazer, seriam julgados como criminosos de guerra, curados para serem mortos a seguir; os feridos que se amontoavam e não havia nada com que os tratar…

Num dos seus capítulos fala dos “seus” companheiros nesse período: a Dor (“um monstro silencioso”), a Vida (“um animal doente com maus fígados”) e a Morte (“Um anjo”), de como lidam entre si e onde só um vence. Impressionante!

É um livro pesado escrito belissimamente por quem estava em zona segura mas o mais perto das trincheiras possível e que viu de perto olhares vazios, gente sem esperança e sangue, muito sangue. Vale a pena a sua leitura. Fica-se a pensar nela durante muito tempo e capítulos há que são duros de ler. Muito.

Recomento vivamente para quem gosta de ler sobre o tema.

“Está tudo cuidadosamente planeado. Está tudo combinado. Está combinado que os homens devem ser despedaçados e que devem ser consertados. Da mesma maneira que levamos a roupa para lavar e a remendamos quando recebemos de volta, mandamos os nossos homens para as trincheiras e remendamo-los quando de lá regressam. Mandamos as meias e as camisas uma e outra vez para serem lavadas, e cerzimos os buracos e aparamos as linhas que se vão soltando, uma vez e outra, tantas quanto as peças aguentarem. E depois, quando ficam demasiado puídas, deitamo-las fora. E mandamos os nossos homens para a guerra repetidas vezes, o tempo que aguentarem, até morrerem, e depois deitamo-los ao chão. Está tudo combinado.” Pág. 115


Terminado em 16 de Outubro de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Mary Borden trabalhou durante quatro anos numa unidade hospitalar de evacuação nas linhas da frente do teatro europeu da Primeira Guerra Mundial. Com uma prosa sublime, a roçar por vezes o insuportavelmente belo, este livro evoca as memórias e impressões dessa experiência. Descrevendo os semblantes dos homens à medida que avançam para a batalha, implicando-se intensamente nas histórias de soldados individuais e descrevendo minuciosamente os cenários de horror com que se depara no hospital de campo, a autora oferece uma perspetiva da guerra que é ao mesmo tempo íntima e poderosa. 

Cris

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