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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

"Caruncho" de Layla Martínez

Já não me recordo de quando terminei este livro porque não apontei. Surge, por isso, em última opinião deste ano se bem que já lá vão certamente alguns meses que o li.

É uma história que se estranha ao princípio mas que se entranha rapidamente. O cenário é no mínimo estranho e algo sobrenatural, uma casa meia assombrada que quase tem vida própria, uma família disfuncional, mulheres de uma família, de diferentes gerações,  que tentam sobreviver.

A narrativa é feita a duas vozes, ambas femininas, a avó e a neta e retrata quatro mulheres de gerações diferentes, numa Espanha que vai desde o Franquismo até à contemporaneidade. A casa é o ponto central, de união mas também de discórdia. Quase que opina, obriga e dirige aquelas vidas. A casa, uma personagem a juntar aquelas outras quatro gerações de mulheres. As suas paredes escondem segredos, os homens não duram muito dentro dela, daquelas paredes que parecem ter vida própria.

A mesquinhez das pessoas, as raivas antigas acumuladas, a violência que a fome e a miséria trazem, a vingança, tudo corrói por dentro o ser humano. Como o caruncho. 

De leitura fluída, muito diferente e original, um texto algumas vezes corrido como se de um discurso oral se tratasse, com uma trama arrebatadora precisamente pela diferença que o leitor sente ao lê-lo. Bem escrito, muito bem escrito. Capa belíssima, apropriada.

Nota final: no posfácio do tradutor podemos ler "deste livro não saímos incólumes. O ambiente está saturado de rancor, de violência; quem o lê sente o bicho ruim a roer as páginas e a querer desenterrar túneis para as suas mãos, por baixo da epiderme; a certo ponto, quase sentimos o caruncho dentro de nós." (pág. 121)

Terminado em 2024 em data não assinalada

Estrelas: 5*

Sinopse
CARUNCHO (2021) narra o regresso de uma neta, acusada de um crime, à casa rural da família e mergulha o leitor no coração de uma Espanha vazia, marcada por resquícios do franquismo, uma terra tão agreste e estéril como o destino a que condena as mulheres que nela vivem. Contada a duas vozes, pela jovem e pela avó, esta história de rancor e vingança é indissociável da memória do lar assombrado, de espectros que clamam justiça, entre quatro paredes sobre as quais pesam traumas herdados e décadas de violência e opressão. Um aclamado romance de estreia, com ecos de Pedro Páramo, de Juan Rulfo, e de alguns contos de Silvina Ocampo, em que se entrelaçam terror, injustiça social e uma pesada herança familiar que, como o caruncho, corrói as protagonistas. 

Cris

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