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terça-feira, 25 de junho de 2024

"Um Dedo Borrado de Tinta" de Catarina Gomes

Título brilhante para um tema escrito com o mesmo brilhantismo porque abordado com muita sensibilidade. Catarina Gomes é assim que escreve. Leiam, se não o fizeram já "Coisas de Loucos" (opinião aqui) porque se reconhece no tratamento do tema aí tratado, o mesmo cuidado com o intuito de não ferir susceptibilidades. 

Nesta obra, e porque se trata de entrevistas a pessoas de muita idade e com um caminho de vida duro a quem o não saber ler impactou sobremaneira, o cuidado e o respeito mostrava-se necessário. 

Gosto particularmente quando a autora se coloca na narrativa, explicando as dificuldades sentidas na abordadem ao fazer as entrevistas sem, mesmo assim, se colocar num lugar de destaque. A personalidade e a vontade dos entrevistados são respeitados e a informação brota porque se sentem bem.

Um périplo por tempos em que não saber ler era uma coisa aceitável à qual nem todos tinham acesso. Gostei muitíssimo e recomendo!

"Não saber ler é a vida não ser só nossa, guardada em nós, não a darmos a conhecer se não tivermos vontade. Não conseguir ler é ter de partilhar, mesmo que não se queira. Resta à pessoa, ao menos, escolher quem nos lê a vida." pag 82 - referência feita aos leitores amáveis que lêem cartas/documentos a todos os que não sabem ler. 

Terminado em 26 de Maio de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Casteleiro, no distrito da Guarda, é uma das freguesias nacionais com maior taxa de analfabetismo. Este livro retrata a vida e o quotidiano de habitantes desta aldeia que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever. É o caso de Horácio: sabe como se chama cada uma das letras do alfabeto, até é capaz de as escrever uma a uma, mas, na sua cabeça, elas estão como que desligadas; quando recebe uma carta tem de «ir à Beatriz», funcionária do posto dos correios e juntadora de letras. Na sua ronda, o carteiro Rui nunca se pode esquecer da almofada de tinta, para os que só conseguem «assinar» com o indicador direito. Em Portugal, onde, em 2021, persistiam 3,1% de analfabetos, estas histórias são quase arqueologia social, testemunhos de um mundo prestes a desaparecer. 

Cris

5 comentários:

  1. Um título chamativo. Decerto um bom livro de leitura. Cumprimentos

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  2. Felizmente uma realidade que tende a ficar nos anais da História e cujos testemunhos deverão ser preservados.

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    Respostas
    1. Mais do que saber ler é saber interpretar e, Alexandra, acho que aí ainda falhamos muito!

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