Sabendo que a autora mexicana vinha a Lisboa apresentar o seu último livro editado cá, "A Filha Única", apressei-me a tentar encontrar este livro anteriormente editado em Portugal e que me passou completamente despercebido.
É um relato muito intimista do que foi a sua infância e juventude na cidade do México, marcada por um defeito de nascença num olho. Auto-ficção, muito provavelmente mas baseada em muitos acontecimentos que a marcaram. Não só essa marca física, que a limitava muito, mas também toda a educação dos anos 70 e ideologia da época: o casamento aberto dos seus pais, as comunas hippies e toda a liberdade sexual em oposição à educação fechada da sua avó.
A narradora, num divã de uma psicóloga, relembra a sua vida, questionando-se. Aceitando-se, por fim, tal como era.
"Por fim, depois de um grande périplo, decidi-me a habitar o corpo em que tinha nascido, com todas as suas particularidades. Ao fim de contas, era o único que me pertencia e me vinculava de forma tangível com o mundo, ao mesmo tempo que me permitia distinguir-me dele." (pág. 159)
Este livro lê-se muito rapidamente porque a escrita é muito atraente, convidativa e os episódios são narrados com muito humor.
Terminado em 11 de Maio de 2024
Estrelas: 5*
Sinopse
Inspirado na infância da autora, O Corpo em que Nasci é a história de uma menina com um defeito de nascença num olho. A sua vida, durante os anos setenta, é influenciada pela sua escassa visão, mas também pela ideologia dominante nessa época: o casamento aberto dos seus pais, a escola activa, as comunas hippies e a liberdade sexual. As diferenças físicas e psicológicas que a distinguem levam a protagonista a identificar-se com os seres que vivem à margem das modas e das convenções sociais.
Escrito como um solilóquio no divã de uma psicanalista, a narradora faz-nos participar das suas recordações mais íntimas e das interpretações que faz da sua própria vida. Trata-se de uma história cheia de sentido de humor, mas também de realismo, na qual o mundo infantil se mostra muito mais ominoso do que à primeira vista parece.
Um romance de iniciação à vida e à literatura, um bildungsroman entre a América e a Europa, nas suas facetas menos óbvias. O exílio sul-americano, a migração do Magrebe, as prisões da cidade do México constituem parte do contexto deste comovedor romance que percorre o caminho de volta à dignidade e à aceitação de si mesmo.
Cris
Olhar no espelho e gostar do que vemos nem sempre é fácil. Parece-me muito interessante, quer pela vivência da protagonista quer pelo período histórico.
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