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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

"Caderno de Memórias Coloniais" de Isabela Figueiredo

Livro escolhido para um grupo de leitura online em cuja reunião final tivemos o prazer de contar com a presença da autora que nos elucidou sobre algumas questões colocadas pelos participantes.

São memórias da autora que nasceu em Moçambique, Lourenço Marques, actual Maputo, e que, após alguns confrontos e tumultos marcantes, é enviada pelos pais em 1975 para Lisboa, para casa de sua avó paterna. 

O antes e o depois da descolonização sobre os olhos de alguém que viveu enquanto criança em Maputo e "retornou" a Portugal passando por toda uma oposição social aos retornados, que a excluiam e a marcaram também. Estrangeira em Portugal, foi isso que sentiu aquando do seu crescimento cá.

Escrita crua, visual e marcante. Uma crítica aguçada ao colonialismo com os seus aspectos negativos e racistas. Um despojar de recordações, uma catarse dos seus sentimentos para com a sua família, um amor/ódio face ao pai, já falecido. 

Gostei bastante da leitura mas as suas "memórias" divergem um pouco das minhas que nasci em Angola. Esse tempo significou para mim, que nasci no mesmo ano da autora, um tempo de liberdade e de muitas amizades que ficaram para a vida. Senti que para a autora esse foi um período de uma certa prisão, talvez imposta pela própria família. 

Terminado em 18 de Janeiro de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

«O "Caderno de Memórias Coloniais" relata a história de uma menina a caminho da adolescência, que viveu essa fase da vida no período tumultuoso do final do Império colonial português. O cenário é a cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, espaço no qual se movem as duas personagens em luta: pai e filha.»

Isabela Figueiredo, in «Palavras prévias»  

«Nenhum livro restitui, melhor do que este, a verdade nua e brutal do colonialismo português em Moçambique. Até porque, como a autora refere, ele aparece envolvido pelo mito da sua mansuetude – sobretudo quando comparado, como era sempre, com o apartheid sul-africano. Mito tão interiorizado pelos próprios colonos que através dele, como por uma lente, percepcionavam a realidade de que constituíam um elemento decisivo – como considerar-se a si mesmos violentos e prepotentes no tratamento que davam aos negros? A verdade escondia-se sob a boa consciência necessária à regularidade quotidiana da vida «paradisíaca» dos brancos. Para a desenterrar era preciso ir procura-la nas sensações infinitamente vibráteis e virgens de uma menina, filha de colonos, que vivia à flor da pele o sentido mais profundo de tudo o que acontecia.»  

José Gil, in «Sobre Caderno de Memórias Coloniais»

Cris

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