Às vezes pareço viver no mundo da lua! Ainda me espanta esta minha cabeça aluada ao fim destes anos todos e creio que sempre será assim... Confesso que peguei neste livro porque o vi recomendado por uma pessoa que sigo nas redes sociais, que prezo e de quem tenho as melhores referências literárias.
Só depois de o ler e ler sobre ele é que me apercebi do quão importante este livro foi e de como ele traduziu com mestria toda uma época de um Portugal fechado em si mesmo, pobre social e economicamente. Creio que constituiu uma das leituras escolhidas para o 10º ano mas não me calhou em sorte...
Retrata a vida de algumas crianças, entre os 10 e 12 anos, que se vêem obrigadas a trabalhar (e roubar fruta) para matarem a fome constante com que viviam. O frio, esse, é um pouco mais difícil de ignorar e colmatar. Os sonhos, no entanto, são grandes e persistentes. E é com eles e por eles que estes miúdos aguentam.
Gineto, Sagui, Maquineta, Gaitinhas e tantos outros vivem ao sabor das estações do ano e do que elas lhes podem trazer. No Verão trabalham como gente grande nos telhais perto dos esteiros do Tejo e nas restantes estações pedem esmola, vadiam e roubam o que lhes passa pela frente.
As diferenças que existem entre estes miúdos-homens, retratados tão bem pelo autor, e os de hoje parecem ser abissais. E ainda bem! Sabemos, porém, que nos dias de hoje ainda há quem viva nessas condições. 😞
Gostei muito. É livro que vou querer reler!
Terminado em 14 de Setembro de 2021
Estrelas: 5*
Sinopse
Oitenta anos depois, Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, continua a ser um dos romances mais marcantes do século xx português.
Passam, em 2021, oitenta anos sobre a primeira edição de Esteiros, de 1941 (com capa original de Álvaro Cunhal) – um livro que marcou várias gerações de leitores ao mostrar-lhes personagens que ficaram para sempre na nossa recordação, «os filhos dos homens que nunca foram meninos» (é essa a dedicatória a abrir o romance): Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Saguí. São eles os heróis anónimos de um diálogo entre o humano e a Natureza, a denúncia da injustiça e a busca de redenção, a solidariedade e a denúncia da pobreza e da penúria. O romance, uma das referências mais emblemáticas do movimento neorrealista português, foi de leitura obrigatória nas escolas secundárias portuguesas durante duas décadas. É hoje um livro quase esquecido. No entanto, graças à sua ingenuidade, bravura e simplicidade, Esteiros é um documento marcante da história portuguesa do século xx – e deve ser relido para que não esqueçamos a fotografia amarga desses anos.
Cris
Muito interessante!! :))
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Silêncios do tempo...
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Beijos, e uma excelente semana!
Li aos 15 anos. Ainda hoje retorno aos homens que nunca foram meninos.
ResponderEliminarE foram muitos. Pena que ainda se verifique a existencia de meninos que nunca o serão verdadeiramente.
EliminarObra incomparável que nunca esqueci!li no liceu... bjs
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