Sabem aquela sensação estranha de quando uma personagem, do nada, começa a fazer algo que não se coaduna com a sua aparente personalidade e achas que deves ter perdido algo na leitura (às vezes a minha mente vagueia sem eu querer e distancio-me do que estou a ler, necessitando depois de voltar atrás e reler)? Foi o que senti a meio deste livro!
Escrito na primeira pessoa, com um carácter intimista que nos coloca muito próximo da personagem, a narrariva deste livro flui lenta mas com uma consistência que não nos permite sequer pensar afastar-nos das suas páginas.
Esther foi uma excelente aluna, ganhando prémios e bolsas. Num determinado período, através também de uma bolsa, vai para NY trabalhar numa revista. Assistimos aos seus dias na grande cidade e depois o seu regresso a casa, onde fica a saber que não lhe vai ser atribuída uma outra bolsa que iria definir um pouco o seu futuro. E é aí que se dá a reviravolta que referi, pois o seu comportamento altera-se, tornando-se obsessiva, doentia, depressiva, frequentando alguns psiquiatras e suas clínicas na tentativa (falhada) de conseguir sair da redoma de vidro em que se sentia metida. Sem esquecer que estamos em 1953, vemos passar pelos nossos olhos tratamentos inimagináveis nos nossos tempos (estou a lembrar-me, por exemplo, de choques eléctricos).
Voltei atrás, reli, e procurei nas páginas lidas algo na personagem que revelasse esse caracter instável ou algum acontecimento que a fizesse mudar repentinamente e, tirando o facto de não ter ganhado a bolsa, nada encontrei. E foi aqui que me perguntei até que ponto esta história não seria uma autobiografia... perguntei-me até que ponto um contratempo (que às vezes a vida nos oferece sem que estejamos à espera) poderia, de facto, ter despoletado uma alteração comportamental extrema. Achei sobretudo que os factos narrados estavam excepcionalmente bem descritos com uma veracidade e crueza tais que me pareceu que a autora os tinha vivido na realidade. No Posfácio verifiquei efectivamente que muitos acontecimentos narrados foram, de facto, verídicos e vividos pela autora.
É um livro denso, pesado que nos faz pensar em como a depressão pode mudar e alterar drasticamente a vida de alguém. Gostei e recomendo!
Terminado em 22 de Agosto de 2018
Estrelas: 5*
Sinopse
«The Bell Jar veio pela primeira vez a público em Inglaterra, no
dia 14 de janeiro de 1963, editado pela Heinemann, com autoria atribuída
a Victoria Lucas. O motivo que terá levado Sylvia Plath a recorrer a um
pseudónimo prende-se com a óbvia coincidência existente entre
personagens, eventos e lugares ali descritos, e a realidade biográfica
da autora. Essa confusão entre realidade e ficção tem servido, ao longo
dos anos, a uma vasta panóplia de equívocos que mais não fizeram do que
dissimular o lugar da sua obra poética e narrativa na literatura
anglo-americana contemporânea.» Do Posfácio
Cris
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