
As primeiras páginas desta leitura foram algo custosas. Não consegui deixar de comparar constantemente com o livro anterior do autor, que amei, e em cujo enredo "entrei" com uma rapidez incrível. Foi mais difícil esta história fazer parte de mim e, mesmo achando que depois todo o restante livro compensou esse facto, não quero deixar de vos falar disso... Assim, nas primeiras 100 páginas e sobretudo nalguns momentos em que o autor descreve o passado (nordeste da Polónia, antes da Segunda Guerra) a minha cabeça vagueou um pouco.
Após essa dificuldade inicial, compreendi o que tinha em mãos. Um romance soberbo, espectacular, baseado num facto verídico mas pensado exaustivamente, com cabeca, tronco e membros. Adorei a dureza das descrições, a subtileza e sensibilidade do amor entre Shionka e Yankel, a narrativa contada num livro que é escrito durante este romance, o escritor / personagem Eryk com o seu ciúme e mágoas acumulados, o despeito, o ódio e a raiva conjunta de um povo face a outro. O inacreditável e o impensável.
Um livro que me fez pensar nas "segundas guerras" a que assistimos nos nossos dias e que nos passam indiferentes pelos nossos olhos. Tantas! Que participação temos nelas? Com que indiferença e egoismo assistimos às "guerras" de hoje contra o Homem e contra o Planeta, ficando indiferentes?
Um livro que mereceu o prémio que teve. Amei.
Terminado em 12 de Agosto de 2018
Estrelas: 6*
SinopseQuando as cinzas assentaram, ficaram apenas um judeu, um cristão e um livro por escrever.
Paris, 2001. Yankel - um livreiro cego que pede às amantes que lhe leiam na cama - recebe a visita de Eryk, seu amigo de infância. Não se veem desde um terrível incidente, durante a ocupação alemã, na pequena cidade onde cresceram - e em cuja floresta correram desenfreados para ver quem primeiro chegava ao coração de Shionka. Eryk - hoje um escritor famoso - está doente e não quer morrer sem escrever o livro que o há de redimir. Para isso, porém, precisa da memória do amigo judeu, que sempre viu muito para além da sua cegueira.
Ao longo de meses, a luz ficará acesa na Livraria Thibault. Enquanto Yankel e Eryk mergulham no passado sob o olhar meticuloso de Vivienne - a editora que não diz tudo o que sabe -, virá ao de cima a história de uma cidade que esteve sempre no fio da navalha; uma cidade de cristãos e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era.
Na senda do extraordinário Perguntem a Sarah Gross, aplaudido pelo público e pela crítica, o novo romance de João Pinto Coelho regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial para nos dar a conhecer uma galeria de personagens inesquecíveis, mostrando-nos também como a escrita de um romance pode tornar-se um ajuste de contas com o passado.
Cris
Estou a ler o «Perguntem a Sarah Gross» e é viciante. Não fazia ideia de que fosse assim. A seguir gostaria de tentar este. Creio que o autor, que muito investigou já sobre certos factos relativos a uma fase negra da História, consegue ensinar-nos bastante sobre ela através de histórias bem contadas. É bom ver isso num autor português.
ResponderEliminarTotalmente de acordo, Cris!
ResponderEliminarAdorei, gostei mais do que o anterior, mas do qual também gostei, mas este teve mais impacto em mim....
Abraço
Teresa Carvalho
Maravilhoso. Um dos melhores que li em 2018.
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