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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Impunidade de H. G. Cancela

Que leitura terrível para terminar o último dia do ano! Ainda estou pasmada com a violência que grassa nas páginas deste livro. De tal modo que ainda hoje, decorridos alguns dias, não consigo pensar nele sem que uma forte angústia me trespasse o coração.

Nas primeiras páginas (quase 100) uma estranha história é-nos apresentada bem devagar. Os personagens e o enredo surgem-nos de uma forma segmentada, incompleta quase. Um homem chega a um apartamento onde duas crianças vivem num abandono que mete dó. Percebe-se que ele é o pai mas não se compreende o passado que o levou até ali, as suas razões nem tão pouco o que ali veio fazer. E a mãe, onde estará?

Não quero de modo algum desvendar o enredo mas quero prevenir-vos que precisam de ter um estômago bem forte para aguentarem estas páginas, esta escrita simples mas de uma violência terrível. A dúvida que ainda tenho e que me impede de dar muitas estrelas (mas sentindo, ao mesmo tempo, que se desse poucas não seria honesta comigo mesma) é se essa violencia seria necessária, imprescindível ou se posso classificá-la de gratuita...

Todo o livro é pautado pelo abandono, pelo sofrimento desses pequenos seres que quase não têm direito a um nome e pelo terrível fim que se antevê. Um fim sem esperança, sem luz. Por outro lado, a apatia que caracteriza o estado de espírito da mãe face às crianças choca o leitor e a quase indiferença com que o pai trata delas também não deixa indiferente quem lê estas páginas. 

Sei que foi um livro que muitos acharam perfeito, muito bom. Para mim, Impunidade merece ser lido, sim. Mas classificá-lo parece-me impossível. Pelo menos por agora que ainda estou ferida pela violência das palavras e o enredo desta história. 

Terminado em 31 de Dezembro de 2106

Estrelas: ???

Sinopse
Um homem caminha primeiro a pé, tacteando no escuro, depois de automóvel, conduz toda a noite, dorme na pressa de um hotel retoma a viagem primeiro ainda em terras portuguesas, depois em Espanha.Em Sevilha sobe ao último andar de um prédio. Tem a chave da porta, a casa está desarrumada e nela se encontram duas crianças adormecidas quase entre sinais de abandono. «Aproximei-me da cama maior. O rapaz tinha apenas as cuecas vestidas. Magro, as pernas esguias, o cabelo comprido. Ouvia-se a respiração. Rápida, regular, entrecortadas por pausas de onde emergia com uma aspiração sufocada. Da outra cama, não se ouvia nada. A menina estava despida, com o cabelo espalhado pelo rosto e as pernas cobertas com a ponta do lençol. Apoiei-me nas grandes, debrucei-me e afastei-lhe o cabelo. Não se mexeu. Respirava devagar, com os lábios entreabertos e um quase insensível movimento do peito. Parecia fria, apesar do calor, o corpo contraído, a cabeça colada aos joelhos. Tinha os lençóis húmidos em redor das coxas. Na penumbra, a sua pele esbatia-se contra o tecido branco.» Este é o ínicio de uma história inesperada, dura, com o «esplendor das coisas ameaçadas».

Cris

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