Comecei a escrever a poesia quando tinha nove anos. Nesse tempo, o jogo de palavras e o ritmo das rimas criavam em mim um vício que foi crescendo até ser diário eu viver o poema e viver de poemas. Entretanto, perante imensos poemas largados pela minha mão em folhas já gastas, os meus pais decidiram oferecer-me uma máquina de escrever. De uma forma muita paralela ao crescimento de um adolescente, fui desenvolvendo versos em dezenas de folhas brancas, ao ritmo das teclas da minha máquina de escrever. Escrevi muito. Ainda hoje tenho esses registos. E a vida foi acumulando os anos até à idade adulta, até ao amor, à constituição de família, até ser alguém ou ninguém, até pensar que o percurso é um caminho sem final.
Aos 36 anos, num dos momentos de solidão, na esquina de um qualquer pensamento, em concordância com a capacidade de me atirar para a frente, sem o receio do que pudesse acontecer, decidi publicar o que escrevo. Comecei pela minha paixão maior, a poesia. "Sentimentos in versos" foi o meu primeiro livro. No espaço de um ano e meio, publiquei onze livros. O significado disto tudo é concretização. "Estudos de alma e conclusões" e Chegaste primeiro" foram alguns dos livros de poesia que se seguiram. "Poesia Objectiva" aliou a fotografia de José Fangueiro com os meus poemas e resultou numa paisagem aberta ao olhar e ao sentimento. Pelo meio deste percurso surgiram as publicações de livros infantis. Como pai e professor estou muito ligado a esta área de sonhos e histórias que podem ser inventadas e reinventadas. A poesia para a infância vestiu-se de livro com o título "Rimas numa folha de alface". O "fato e a gravata" ou "A zanga das letras comadres" foram o início deste trajecto que se consolida agora com "O cágado sonhador que queria ser aviador". Outros projectos estão em desenvolvimento sob a tal capa da concretização. O amor que se tem aos livros só poderá persistir se eles existirem, se houver quem se encoraje e enfrente as dificuldades para recolher mais à frente o fruto da sua dedicação em forma de felicidade.
A forma de escrever histórias cabe sempre no rumo da imaginação, uma frase das filhas, uma situação na rua, um pensamento na solidão, um sentimento latente, enfim, tudo nos pode ajudar a diluir as ideias no papel e deixar fluir, de acordo sempre com o nosso estatuto de eternas crianças. Na poesia, deixo-me levar pelo estado de alma, na harmonia das palavras, no desenvolvimento dos sentimentos, sou eu no meu mundo muito próprio.
Nasci em Ovar, estudei em Viseu, vivi em Lisboa durante um ano, andei por algumas escolas deste nosso país até me ancorar em Santa Maria da Feira. Resido em Ovar, minha terra, onde fiz rádio, onde aprendi música, onde desfilei no carnaval, onde faço teatro,onde tenho sido feliz. Para além da escrita, gosto imenso de ler e de passear. Visitar castelos e palácios, como se viajasse nas histórias com realidade, está no topo das minhas preferências. Adoro visitar exposições e ouvir concertos de piano. Viajar de carro faz-me ir ao encontro das localidades mais pequenas, de um desconhecido permanente que nos torna seres minúsculos e deambulantes, em busca de uma serenidade.
Nos meus olhos azuis, grandes e salientes, fiz a minha imagem de marca no aspecto físico. Não aliava a beleza, mas aprimorava o discurso como base de compensação. Descobri mais tarde que a beleza interior era muito mais importante. E ainda é. Hoje, como fundamentação de um envelhecimento, vem chegando a calvície, mas julgo-me a crescer de sentimentos e pensamentos, pelo que é muito bom. Crescemos por dentro. Envelhecemos por fora.
Gosto do amigo do seu amigo. Que as pessoas sejam simples e sinceras, genuínas e naturais. Adoro uma boa conversa. Quem me apoia tem tudo de mim, mesmo que em desacordo de opiniões. Sou pela nobreza de carácter. Tenho dificuldade em dizer «não». Mas sou feliz assim. Amigo do meu amigo.
Quanto aos livros. Vou continuar por aí. Sonhando e concretizando as palavras com gestos.
Carlos Nuno Granja
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