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quinta-feira, 13 de março de 2014

A Escolha do Jorge: "A Última Noite Em Lisboa"

A recente edição de “A Última Noite em Lisboa” comemora os 25 anos de trabalho literário de Sérgio Luís de Carvalho que iniciou com a publicação de “Anno Domini 1348” publicado em 1989 tendo-lhe valido na altura o Prémio Literário Ferreira de Castro.


Outros títulos seguiram-se, nomeadamente “As Horas de Monsaraz”, O Retábulo de Genebra, O Segredo de Barcarrota e mais recentemente “O Exílio do Último Liberal”, entre outros.
Para os amantes de romances históricos, certamente apreciarão o trabalho desenvolvido por Sérgio Luís de Carvalho que, uma vez mais, no seu novo romance “A Última Noite em Lisboa” permite ao leitor uma viagem no tempo com uma reconstituição soberba da Lisboa do período em que decorreu a 2ª Guerra Mundial.

É precisamente esse o pano de fundo do romance, a Lisboa num período complexo em que Portugal não tendo participado na guerra, o país serviu de palco para muitas jogadas políticas internas e também externas, nomeadamente como forma de escape de muitos milhares de refugiados perseguidos pelos nazis e que encontraram em Portugal não só um porto de abrigo, mas também servindo de catapulta para se dirigirem para os EUA, assim como outros países. Por outro lado, dada a neutralidade de Portugal, face às exigências de ambos os beligerantes da guerra, o país movia-se ardilosamente mediante as pressões externas de modo a não ferir suscetibilidades, embora nem sempre o conseguisse da forma mais isenta, daí que se tenham intensificado o número de espiões do lado dos nazis e dos aliados na capital portuguesa durante esse período.

Durante os anos da guerra, Lisboa apresentava-se como uma capital atrasada e provinciana comparativamente com outras cidades europeias e é precisamente este ambiente de acolhimento de milhares de refugiados que vão de alguma forma influenciar o modo de vestir, de andar, hábitos de quotidiano e nalguns casos até o modo de pensar que Sérgio Luís de Carvalho explora no romance como se tratasse de alguma forma de dois mundos em confronto.

A narrativa move-se essencialmente à volta de três personagens: Henrique que trabalha na revista manifestamente nazi “A Esfera”, a sua noiva Maria Carolina e Charlotte, uma alemã refugiada em Lisboa cujo irmão combateuna Guerra Civil Espanhola. Aquilo que poderia indiciar uma complexa relação amorosa a três torna-se em algo muito mais sério e com contornos políticos sem precedentes obrigando Henrique a tomar uma decisão à medida que toma consciência das questões que estão por trás tanto a nível profissional, como a nível pessoal.

Todo este ambiente político é reconstituído com bastante rigor histórico na medida em que uma parte dos personagens existiram efetivamente, como por exemplo, os jornalistas de alguns dos periódicos que eram publicadosna época, mas também não são esquecidos os trabalhadores portugueses que exercem as mais humildes profissões, tais como, as vendedoras de peixe, os carvoeiros, sendo igualmente feitas inúmeras alusões a muitas ruas típicas de Lisboa, entre a Baixa-Chiado e o Bairro Alto, algumas das lojas que ainda hoje teimam em não encerrar, traços essenciais da cultura portuguesa através da Amália Rodrigues que começava então a dar os primeiros passos na sua memorável carreira, a própria gastronomia como por exemplo as iscas com ou sem elas mediante a bolsa de cada um, a linguagem tão característica dos bairros populares de Lisboa que ainda hoje nos delicia quando ouvimos os mais idosos falar, as estrelas do futebol que brilhavam na época, as privações a que a população estava sujeita tanto em bens alimentares como nos combustíveis, por exemplo, e tantos outros exemplos que deixará o leitor completamente anestesiado com uma Lisboa dos anos 40 à qual agora viajará sentindo quase os seus sons e cheiros.

À medida que “A Última Noite em Lisboa” se aproxima do seu derradeiro final, o leitor fica com a nítida consciência de que ficou a conhecer muitos dos meandros da “neutralidade colaborante” conforme se veio a referirmais tarde, não esquecendo o que esteve na base da Guerra Civil de 
Espanha e as repercussões que a mesma teve na sua articulação com Portugal e com os países 
envolvidos posteriormente na 2ª Guerra Mundial.

“A Última Noite em Lisboa” vai ter um final semelhante ao filme “Casablanca”, ora não fosse um filme que também realçasse o papel de Lisboa no decurso da guerra e, deste modo, «Nós teremos sempre Lisboa».

Apresentação de “A Última Noite em Lisboa” por Miguel Real:

texto da autoria de Jorge Navarro

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