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domingo, 15 de abril de 2012

Ao Domingo com... Miguel Novo


"Eu sou invariavelmente confuso, sou sempre eu e falar de mim não é fácil nem difícil, é falar de mim.


Tenho muita dificuldade em falar de mim porque não sei até que ponto devo dizer alguma coisa, não que me incomode dizê-la, mas porque pode incomodar a quem ouve e gosto de respeitar as diferenças entre mim e quem ouve, aceitando a pessoa que está a ouvir, sabendo que o que eu quero dizer a outra pessoa pode não querer ouvir e, caso ouça, não estar preparada para isso. Dou-me liberdade de dizer sempre o que penso, com o respeito de me enquadrar devidamente na situação.


Gosto de apreciar a vida, de reparar nas pessoas e na beleza da diferença, muitas vezes vejo pelos olhos dos outros, ainda que sem obter sucesso nenhum. Passo muito tempo perdido nos meus pensamentos, acompanhado pela minha companhia, a viajar na minha viagem.


Gosto de ler, mas são poucos os autores com a capacidade me maravilhar e que me enfeitiçam. Gosto de livros dispersos e confusos, que brinquem com o estabelecido. Temo que, ao ler um livro, seja difícil desprender-me do que leio, olho muitas vezes o livro com os olhos de quem também está a ler o autor.


A nível literário não considero que tenho um estilo definido, embora escreva sempre eu. O que tenho a dizer pouco me interessa, digo-o. Não penso se querem ouvir ou não, digo-o. Gosto de surpreender, de chatear, de irritar, contestar e criar com muita agressividade, com as emoções, com o que estou a sentir. Ainda que saiba, não gosto de criar com método, de escrever com o objetivo de obter o produto final, escrevo quando sinto que tenho que escrever, escrevo-me por sensações de ter que o fazer. Muito do que escrevo reflete o que sou, num espelho que nunca evidencia quem sou realmente. 
É um prazer ter duas obras editadas, O Livro Sem Título [Diário Sem Tempo], Corpos Editora, 2009 e Hoje Lembrei-me Que Te Amo, Papiro Editora, 2012. 


O meu mais recente livro “Hoje lembrei-me que te amo”  foi lançado no mítico Clube Literário do Porto (que encerrou no mês passado), foi  apresentado em duas Bertrand (Parque Nascente e Plaza Porto), apresentações no Colégio Internato dos Carvalhos, Escola Secundária Arquiteto Oliveira Ferreira, CASA (Centro de Avançado de Sexualidades e Afetos), entre outras. Nas apresentações do livro faço-me acompanhar de amigos que dão vida ao livro com outras formas de expressão artística (declamações e atuações musicais) por considerar que um livro é mais que um conjunto de letras que podemos ler, podemos sentir e gosto de intensificar as sensações. Confesso que não gosto de falar para pessoas que não conheço, por querer dar o melhor de mim aos outros e achar que a magia se perde quando falamos para quem não conhecemos. 


Hoje Lembrei-me Que te Amo é uma viagem infinita aos sentimentos de um homem que encontra uma série de cartas e fica confuso com a sua descoberta. Muitas vezes chega a confundir-se com o autor das cartas, é um livro que aparentemente não segue uma lógica e acaba por fazer sentido sendo coerente na incoerência. Há a sensação de que as personagens se podem confundir com a minha experiência, as personagens são a minha vida, são os filhos da minha criação, são experiências, são momentos e gosto que Hoje Lembrar o Amor seja apenas isso, um momento e que o Amor ganhe de novo vida, que as pessoas sigam de novo apaixonadas pelo Amor. O Amor que envolve essa magia de nunca se saber o que é, nunca se conseguir definir e carregar uma palavra cheia, uma palavra que nos diz tudo, é uma palavra que se sente.     


Desde muito cedo que quis ser escritor, desde muito cedo que aprendi a escrever, sem nunca querer realmente aprender a escrever, porque o que eu faço é vender emoções. Quando sinto alguma coisa, sei que o leitor vai sentir também, não a mesma sensação que eu tive, mas a que ele vai ter. 


Tenho repulsa por alguns livros porque me torno demasiado nas personagens que o compõe e no autor que os cria, passo a escrever com semelhança ao autor que leio e não gosto de controlar isso. Acho que uma escrita bonita é bonita por ter um cunho pessoal e refletir quem cria, sem ligar exageradamente aos aspetos técnicos. Ainda que seja preciso compreender de gramática para criar, não é necessário ter consciência dela para se criar, porque uma escrita é bonita quando limpa de imposições, quando autónoma de sensações. Um estilo de escrita gramaticalmente correto é belo de forma diferente. Acho que o que compete ao crítico literário não é o mesmo que compete ao autor e é urgente que se faça uma distinção entre ambos. A língua tem vida própria e eu gosto de a ver alimentada, com peso e medida, claro. Devemos assegurar-nos de não cair no extremo de tornar a literatura ilegível. 


A literatura portuguesa tem excelentes talentos e, para mim, é um prazer enorme ser português, escrever em português.


Despeço-me assim, 


Na ânsia de voltar num domingo próximo,


Miguel Novo"



1 comentário:

  1. Fiquei expectante relativamente ao livro do Miguel Novo, ao ler esta entrevista! Adorei!
    Teresa Carvalho

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