Não é uma leitura escorreita nem ligeira. É densa porque nos fala sobretudo dos sentimentos de um casal que se vê, de um momento para o outro, privado da sua liberdade dentro da sua própria casa. E é precisamente em Atenas, em 1943, aquando da invasão hitleriana em que, temporalmente, se situa este livro.
Um oficial alemão vai ocupar as divisões principais de um apartamento pertença de um casal com dois filhos de 12 e 10 anos. Passam a ter de obedecer às suas ordens que, de dia para dia, são mais rigorosas e desumanas. A tensão instala-se, a fome também, já que os melhores alimentos são pertença do seu inquilino forçado.
Os desenvolvimentos decorrem lentamente como se o tempo tivesse parado naquela casa que, subitamente, passou a ser a prisão de quem era o seu dono. Mas as reviravoltas na narrativa surgem e a perspectiva dos proprietários, face ao oficial que passa de prepotente a afável sem que o casal perceba porquê, é alterada. A metamorfose do oficial gera mudanças no comportamento dos proprietários também.
A guerra parece longe e, no entanto, está bem dentro daquelas paredes. Os sentimentos do casal e até dos seus filhos estão em constante mudança mas não alteram muito entre o medo, a insegurança e incerteza. A sua casa transformou-se num "barril de pólvora e as consequências não se fazem esperar...
Publicado pela primeira vez em 1945 este livro surpreendeu-me pela positiva. Um olhar diferente sobre os efeitos da II Guerra, num ambiente claustrofóbico, repleto de medo e insegurança.
Terminado em 28 de Dezembro de 2020
Estrelas: 5*
Sinopse
Tal como a extraordinária novela de Glenway Wescott O Falcão Peregrino (que Susan Sontag descreveu, no The New Yorker, como «um dos tesouros do século XX»), Um Apartamento em Atenas desenvolve-se em torno de três personagens. Nesta história sobre um casal grego que vive em Atenas ocupada por nazis e obrigado a partilhar a sua casa com um oficial alemão, Wescott encena perturbador drama de adaptação e rejeição, resistência e compulsão.
Um Apartamento em Atenas retrata os efeitos de uma guerra na vida quotidiana. Trata-se de uma invulgar história de luta espiritual, em que o triunfo e a derrota dificilmente se distinguem. Um bom estudo sobre a humilhação e a dignidade, e o seu desenlace em tragédia e numa solução desesperada. O carácter moderado, a ausência de exageros e a serenidade são admiráveis como o ideal grego que reflectem e honram. Nesta obra reside a dignidade de um estilo no qual nada é excessivo nem insuficiente.
Cris
Não conhecia o livro, mas parece ser uma boa leitura.
ResponderEliminarNão conhecia, mas despertou-me o interesse. Se o encontrar, é mais um para a estante dos "não lidos".
ResponderEliminarBeijinho