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domingo, 15 de novembro de 2020

Ao Domingo com... José Rodrigues


Ter o coração bem junto à boca, quando o motivo é a paixão, é um fenómeno tão bom quanto difícil de descrever. Sentir que, daqui a pouco, vamos encontrar alguém por quem estamos apaixonados, consegue fazer com que o coração saia do seu lugar e se encoste bem junto à garganta. Esta viagem imaginária que faz o órgão vital tem exatamente a mesma duração da paixão. Tem também, pelo menos, dois passageiros. É uma viagem fabulosa, com paisagens impossíveis de descrever, tal a beleza com que os olhos dos viajantes a veem. Queremos viajar a todas as horas, a todo o instante. O único meio de transporte são mesmo as nuvens, onde fazemos questão de poisar todo o corpo. Um meio de tal forma saboroso que nos faz esquecer que, a qualquer momento, um dos passageiros pode resolver não mais viajar. E dói voltar a colocar os pés no chão. Dói ainda mais sentir que fica um caminho deserto entre o peito e a garganta e sentimos que, de uma forma teimosamente duradoura, o coração se recusará a querer voltar a fazer esse percurso. E é neste momento que se paga o bilhete sobre a forma de insónias, piques de mau humor ou vontade de nada querer ou fazer.

Quando alguém mais velho ou experiente nos tenta confortar através de frases como "isso passa com o tempo", discordamos de todos os termos. Na verdade, passamos a achar que o tempo passou a ser medido por um relógio de corda que parou.

A paixão não exige madrugadas ou manhãs próprias para nascer e as rugas ou a ausência de força física são meras circunstâncias. As noites são pormenores incluídos nos dias que se desejam longos, prolongados pelo sol que brilha sempre aos olhos dos apaixonados, mesmo que o céu pareça carregado de nuvens que anunciem as mais severas tempestades. A paixão não tem hemisférios, movimentos de rotação e as flores mais belas podem nascer num pedaço de terra que nunca tenha conhecido água suja ou limpa. O vento até pode correr de forma violenta e a chuva ou granizo chegarem com um terrível temporal. No entanto, os corações apaixonados tudo conseguem, incluindo fazer com que os mais belos dias de verão nunca se afastem da paixão.

José Rodrigues

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