A Caixa Negra, Amos Oz, 1987
Amos Oz era um escritor desconhecido para mim e foi o impulso de este livro estar a um preço muito simpático que me levou a comprá-lo. O título, a capa e a sinopse ajudaram também.
Não é a primeira vez que leio livros com uma estrutura epistolar, como acontece com “A Caixa Negra” e esse facto também me agradou, mal comecei a lê-lo. As personagens vão surgindo e densificando-se à medida que as cartas trocadas entre eles nos vão sendo reveladas. A partir da primeira carta que vai quebrar um longo silêncio de seis anos após o divórcio entre Llana e Alexander Gideon, vai tecer-se toda uma trama de situações que, ultrapassando o aspecto superficial do drama familiar provocado pelos problemas que o filho de ambos Boaz está a criar, traz um conjunto de aspectos políticos, sociais, religiosos da sociedade israelita, os quais surgem em camadas muito para além do que espoletou a carta inicial.
Cartas, telegramas, longas, breves, as de Boaz cheias de erros ortográficos que nos fazem sorrir, é desta matéria que “A Caixa Negra” é construída. Aquilo que muitas vezes não se consegue verbalizar nem transmitir numa conversa face a face, a escrita e, neste caso, a escrita de cartas permite aprofundar ou tornar visíveis sentimentos e estados de alma das personagens. Elas esmiúçam sentimentos, recordam episódios íntimos e analisam-nos como antes os protagonistas nunca tinham conseguido fazer cara a cara Apesar da separação, houve algo que nunca foi destruído e esse fio que permaneceu é-nos revelado à medida que a correspondência é trocada entre LLana e Alexander. Como numa investigação a partir duma caixa negra de um avião, estas cartas vão-nos revelando aos poucos as histórias daquelas pessoas, deixando-nos adivinhar ou supor o que levou à separação, ao ódio, ao fim de uma relação. Confesso que a certa altura desejei chegar rapidamente ao fim do livro. As cartas de Michel Sommo o segundo marido de Llana, alguém que se revela ambicioso e muito oportunista, sabendo ser melífluo para levar a água ao seu moinho, passaram a ser-me fastidiosas, cheias de citações bíblicas e de sermões para Boaz. O livro perdeu ritmo e tornou-se cansativo.
Confesso os meus poucos conhecimentos sobre a realidade da sociedade israelita: os conflitos entre judeus e árabes, as divisões de classe que se pressentem entre Alexander e Michel Sommo, as diferenças que existem entre judeus relacionadas com as suas origens e proveniências e daí crer que não consegui retirar do livro todo o sentido que um israelita consegue captar deste livro escrito por um escritor israelita com uma postura política de defesa da paz e de simpatia com a causa palestiniana.
16 de Novembro de 2020
Almerinda Bento
Não faz o meu género mas acredito que seja um livro interessante de ler.
ResponderEliminar.
Abraço
Nem todos gostamos de amarelo... por isso existwm todas as outras corws, não é? Bjs
EliminarPenso que talvez também não conseguisse apreender todo o conteúdo da história, mas parece-me interessante.
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