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domingo, 22 de junho de 2014

Ao Domingo com... Rui Teixeira

Portanto, no princípio era o Verbo. E o Verbo se fez luz, e sombra, e cores e cheiros, e gente-gente, e gente-bicho ou bicho-gente, um Universo inteiro nas histórias que contavam os mais velhos. E havia livros que ilustravam as histórias. E amigos de verdade. E outros, imaginários, que repetiam e a quem repetia as histórias ouvidas. E os personagens das histórias misturavam-se e invadiam outros enredos e medravam, e novas histórias daí se criavam. E havia, ubíquos, o Bem e o Mal. E havia uma Moral, e o Bem ganhava sempre.
      E o Verbo eram letras e palavras que ganhavam forma e permaneciam, e foi estreada uma caneta nova no exame da quarta classe, e escreviam-se cartas onde se partilhavam alegrias ou tristezas, e afectos.
      A Guerra mostrou o valor da Paz, a Paz aplacou os horrores da Guerra, as histórias falavam de gente que se confundia com bichos e de bichos que se comportavam como gente.
      E uma pessoa, um escritor, foi à sala de aula mostrar Um Girassol Que se Chamava Beatriz. e a pessoa, que se chamava Eduardo, não escrevia com maiúsculas a seguir à pontuação, e ensinou que o sonho e a capacidade de despertar emoções se sobrepõem à regra. E o Mundo foi minguando, um livro era uma janela por onde fugia a Cem Anos de Solidão e o mundo era mais pequeno que o coração que, por crescer, às vezes doía. Um Saramago, chamado José, levantou-se do chão para contar outra História do Cerco de Lisboa e mostrou que não há apenas uma verdade e que esta pode ser corrigida e deve ser procurada no coração. E o mundo não voltou a ser o mesmo.

      A Escola deu lugar à Vida, ainda que seja vida aquela e não deixe esta de ser uma escola e as histórias quiseram confundir-se com a própria vida. E um homem chamado Pepetela começou um livro por portanto, e escreveu sobre uma Geração que se deixou manietar pela vida, abandonado a Utopia de ser e fazer diferente e melhor.
      E fizeram-se dois mundos, o de-lá-de-fora, onde acontecia a vida, e o de-cá-de-dentro, onde habitava o sonho e onde as vozes de outrora contavam novas e velhas histórias. O mundo de-cá-de-dentro cresceu até ser uma sala com estantes e livros, e cadernos e lápis. E um computador, que é uma porta entre os dois mundos. E, um dia, as novas histórias já não cabiam no mundo de-cá-de-dentro e forçaram a saída para o de-lá-de-fora e assim nasceu um Camaleão que é uma janela para uma vida com vidas dentro, numa viagem que se inicia em Angola, assiste ao estertor do império e desagua num Portugal novo. Como um velho e esquecido baú que, uma vez aberto, revela memórias, emoções e sentimentos de um menino que, enquanto cresce, se metamorfoseia para se manter ligado a um Mundo que se revolve e transforma de forma suave e quase imperceptível, por vezes, ou rápida e violentamente, por outras. 

Rui Teixeira

5 comentários:

  1. "E, um dia, as novas histórias já não cabiam no mundo de-cá-de-dentro e forçaram a saída para o de-lá-de-fora e assim nasceu um Camaleão (...)". E tantas ainda por brotar, pois as sinto fervilhar... solta-as... há tanto por contar do mundo aí-de-dentro.
    Abraço no coração.

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  2. Soltaste o Camaleão e assim que saiu, corri a lê-lo. Devorei-o, ansiando que as páginas não acabassem. Agora aguardo novas aventuras, que estarão à espera de uma oportunidade, para saltar cá para fora. Por ora, estou atenta... às tuas palavras! Até já...

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  3. BONITO!! sou uma priveligiada por ter amigos assim!! Beijinhos

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  4. Somos todos camaleões nesta vida e eu, depois de ler "este", sinto que compreendo melhor, este mundo de convulsões permanentes ... forte abraço deste teu fã n. UM ..

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  5. Somos todos camaleões ... quem não tem que se adaptar à vida ?!...

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