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terça-feira, 9 de julho de 2013

A Convidada Escolhe... Os Anagramas de Varsóvia

Foi o primeiro livro que li deste autor de nacionalidade americana e portuguesa. Muito bem escrito, leva-nos a mergulhar na história terrível do maior gueto judaico criado pelos nazis na Europa. Criado em 1940, os nazis confinaram num espaço extremamente reduzido da cidade de Varsóvia, cerca de 30% da sua população, ou seja, cerca de 400 mil judeus.


Para além da humilhação, da fome e das doenças, cerca de 300 mil judeus do gueto foram deportados e exterminados em Treblinka. O gueto de Varsóvia ficou conhecido não só pelo seu tamanho e horror, mas pelo heroísmo demonstrado por grupos organizados de judeus polacos que no seu interior fizeram um levantamento entre Abril e Maio de 1943, insurgindo-se contra a opressão nazi, tendo sido mortos ou deportados cerca de 50 mil judeus ainda a viver no gueto.

Tal com a História de resistência e coragem protagonizada por quantos deram corpo a essa insurreição em 1943, quando já nada havia a perder, Os Anagramas de Varsóvia são uma história de resistência e de coragem, de tentativa de encontrar respostas e lutar por descobrir quem dentro do gueto atrai crianças para a morte.

Erik Cohen, um velho psiquiatra e narrador, juntamente com o seu amigo Izzy, tudo farão, arriscando tudo para desvendar o mistério que envolve a morte de crianças que desaparecem e cujos cadáveres surgem amputados. De forma muito inteligente, o autor apoia Erik e apoia-nos enquanto leitores/as através de Izzy, sempre positivo e de bom humor para ajudar o amigo nos momentos de maior desespero.

Richard Zimler leva-nos neste romance cheio de subtilezas e ambiguidades a conhecer diversas personagens, os seus sofrimentos e artifícios para sobreviverem num clima hostil, mas onde se procura manter a dignidade, preservar uma identidade ameaçada, nem que seja através de anagramas que, mascarando os nomes, são a forma de resistência e de sobrevivência num mundo de loucos. O autor, que neste livro faz uma homenagem também aos seus familiares mortos no gueto, disse de Os Anagramas de Varsóvia que “é um livro sobre o heroísmo”. Mas é também um livro que quer que não se apague a memória da história dos judeus no gueto.

Tal como muitos relatos da vida dos judeus do gueto, que nos permitiram conhecer o seu dia-a-dia, foram encontrados escondidos em latas e em outros esconderijos, o manuscrito de Os Anagramas da autoria de Erik Cohen foi descoberto por debaixo das tábuas do apartamento de Heniek Corben, um impressor, sobrevivente do gueto, a quem Erik confiou o manuscrito.

No posfácio, Heniek Corben escreve sobre Erik Cohen e o seu manuscrito:
“As últimas palavras que me dirigiu foram:
- Diga um kaddish* por mim, se alguma vez conseguir chegar ao campo de trabalho onde morri.
- Mas não acredita em Deus! – exclamei.
- É verdade, mas acredita você! – respondeu, e o rosto abriu-se-lhe num sorriso malicioso. Depois, olhou-me fixamente, com ar grave. – E mais uma coisa Heniek. Depois de os Alemães perderem, vão querer que nós esqueçamos tudo o que aconteceu. Uma pessoa, lembre-se apenas de uma!, será o suficiente para lhes estragar os planos.”
(…)

“Erik e eu escrevemos a história dele, e ajuda-me a passar melhor os dias saber que o fizemos juntos. E acho que o simples acto de ler é importante – significa que temos uma oportunidade de participar de uma cultura que os nazis não conseguiram matar.”

No fim do livro e para adensar a ambiguidade dos nomes e anagramas das diversas personagens, Heniek Corben escreve:
“Se tiver razão, então Deus – ou quem quer que seja que nos dita a vida que temos – quis que eu soubesse que era ao mesmo tempo a história e o seu narrador, o criador e o ente criado, o cantor e a canção. Tal como o leitor.
Somos todos o mesmo – todos os «eus» no centro dos nossos pensamentos e emoções.
No princípio era o Verbo. E no fim, também.
Quem somos nós, os que aparecemos em Os Anagramas de Varsóvia? E quem somos nós, que damos vida a esses homens, mulheres e crianças de cada vez que lemos os seus nomes?
No final, é o leitor que terá de decidir.”
* kaddish – oração judaica pelos mortos

Almerinda Bento

5 comentários:

  1. Olá :)
    Tens um selinho no meu blogue!

    Beijinhos e boas leituras!

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  2. Querida amiga Cris !!!!

    Perdoa-me a invasão de seu espaço, mas
    O achei na NET e resolvi visitá-lo. Seu
    Blog. é bem bacana. Gostei de tudo que
    vi. Está de parabéns. Voltarei mais vezes,
    se o assim permitir, para comentá-lo, melhor, ok?
    Já sou seu seguidor. Um lindo dia e
    Maravilhosa semana para você!
    Beijos de luz !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    POETA CIGANO – 09/07/2013
    Http://carlosrimolo.bl.ogspot.com
    “Poesias do Poeta Cigano”

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  3. Cris e Almerinda, Gosto muito dos livros do Zimler mas ainda não li este "Os anagramas de Varsóvia". Todos os livros do Zimler fazem parte da minha "lista de desejos" mas agora este saltou uns degraus...
    Obrigada.
    bjs

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    Respostas
    1. Patrícia, este vale a pena passar à frente da pilha...bjinhos!

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  4. Tenho saudades de Zimler!
    O tempo tem fugido e não li mais que os 4 que estão na estante (ainda ontem os remexi, sem saber que descobria um aqui hoje!)...
    É bom demais para se não ler...
    Vou espreitar mais sugestões :)

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