Este romance do escritor angolano José Agualusa conta-nos uma história através da correspondência trocada entre Fradique Mendes, sua madrinha Madame de Jouarre, Ana Olímpia e Eça de Queirós.
O facto de os destinatários das cartas de Fradique, remetidas de Angola, de Paris, de Lisboa ou do Brasil, serem diferentes pessoas correspondendo a interesses específicos na vida de Fradique Mendes, dá-lhes um carácter diverso mas ajuda-nos a compor a personalidade, quer do remetente quer do/a destinatário/a. A troca de cartas é o meio utilizado pelo autor para introduzir não só o retrato das diferenças culturais de Portugal, de Paris, de Angola e do Brasil dos finais do século XIX, mas para colocar em confronto questões candentes como são a luta contra a escravatura, o estertor dos senhores do engenho e dos donos de escravos e as contradições de Portugal enquanto país colonizador. Na última carta que Fradique escreve a Eça ele explica o motivo da sua recusa em escrever um artigo para uma revista sobre «A situação actual de Portugal em África».
A última de todas as cartas escrita por Ana Olímpia a Eça de Queirós, já depois da morte de Fradique Mendes, é uma longa carta em que se nos revelam pormenores na relação entre ela e Fradique. Ana Olímpia, que primeiro recusara que Eça publicasse em livro a correspondência trocada entre Fradique e Eça, pois achava que isso era uma profanação ao marido, acabou com os anos que entretanto passaram, por decidir enviar-lhe estas cartas, como um tributo, uma homenagem não só ao homem que amou, mas também a uma figura singular e avançada para a época. “Fradique não nos pertence, a nós que o amámos, da mesma forma que o céu não pertence às aves. As suas cartas podem ser lidas como os capítulos de um inesgotável romance, ou de vários romances, e, nessa perspectiva, são pertença da humanidade.”
“Nação Crioula” título do livro é também o nome do último navio negreiro a fazer a ligação entre Angola e o Brasil e onde seguiram Fradique Mendes e a sua amada Ana Olímpia, ex-escrava, mais tarde mulher de Victorino Vaz de Caminha, finalmente mulher de Fradique Mendes e uma das pessoas mais ricas e poderosas de Angola.
Almerinda Bento
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