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terça-feira, 18 de setembro de 2012
A convidada escolhe... A mulher certa
Não li. Já o tive na mão mas larguei-o porque tinha outros mais urgentes em lista de espera...(Cris)
"Este é um romance de grande fôlego, com uma estrutura fora do comum e que nos dá uma visão amarga e pessimista sobre a vida, as relações afectivas, a política, as diferenças de classe e de estatuto social.
São 3 longos monólogos e um epílogo. O/A leitor/a é afinal o/a detentor/a da visão global e multifacetada que as diferentes perspectivas das personagens que monologam lhe permitem ter, ou seja, quem lê tem o privilégio de conhecer a história daquelas três personagens porque dispõe das diferentes leituras e perspectivas que cada uma dá da mesma história
O primeiro é um monólogo em que Marika fala a uma amiga da falência do seu casamento.
O segundo é a visão do marido Péter sobre os seus relacionamentos afectivos com as duas mulheres Marika e Judit. Quer este, quer o primeiro monólogo decorrem em Budapeste.
O terceiro traz-nos a perspectiva de Judit sobre o marido Peter e a primeira mulher, num longo monólogo com o amante, baterista num bar de Roma.
O epílogo passa-se nos Estados Unidos num bar de Nova York onde o emigrante húngaro ex-baterista e ex-amante de Judit fala com um conterrâneo em busca de apoio para se fixar na “terra das oportunidades”.
É interessante ter em conta o facto de que os dois primeiros monólogos foram publicados em 1941. O terceiro monólogo surgiu oito anos depois, quando o próprio autor estava exilado em Itália, tendo esta terceira parte sido reescrita muito mais tarde, em 1980, acompanhada com o epílogo.
O tema principal que é este relacionamento afectivo entre pessoas é pretexto para inúmeras reflexões por parte do autor, um “falar com os seus botões” com considerações sobre o amor, os preconceitos sociais, os tiques e as diferenças de classe e os mais diversos sentimentos.
À medida que lia este livro escrito pelo húngaro Sándor Márai, e tendo em conta como ele foi sendo construído, considero que o autor sentiu necessidade de o “retocar”, melhorar, acrescentar desenvolvimentos, porque entretanto aquelas vidas não deixaram de o “atormentar” e mais reflexões se seguiram. Por isso, ele foi escrito e acrescentado ao longo de vários anos, entre 1941 e 1980, altura em que o autor já vivia nos Estados Unidos.
Para terminar, muitas das páginas deste romance reflectem também as preocupações políticas do autor relativamente quer ao ascenso do fascismo, quer à ausência de liberdades na Hungria sob o domínio soviético. O facto de desde sempre ter demonstrado distanciamento face ao regime, levou-o a abandonar o país e a emigrar, tendo vivido em vários países e finalmente fixou-se nos Estados Unidos onde, com 89 anos veio a suicidar-se em 1989, poucos meses antes do colapso do Muro de Berlim e dos países debaixo do domínio da União Soviética.
As suas opções políticas e ideológicas fizeram com que durante muitos anos este autor tivesse sido apagado e esquecido no seu próprio país e apenas conhecido e publicado pelas comunidades húngaras emigradas pelo mundo ocidental."
Almerinda Bento
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