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domingo, 22 de julho de 2012

Ao Domingo com... Sofia Martinez


"Olá! Chamo-me Sofia e comecei a escrever este romance numa viagem de comboio. Se pensarmos num livro como num bilhete de avião, este dá direito a uma viagem no espaço e no tempo. Convido o leitor, ou a leitora, a suspender por momentos a incredulidade e, abrindo-o, a seguir as personagens. Este texto é uma ficção, não um documento, no entanto há bastante “real palpável” por entre as folhas. O local existe e pode ser visitado: é um sítio arqueológico no concelho de Macedo de Cavaleiros e chama-se Fraga dos Corvos. Vários materiais que vemos nas mãos das personagens existem e podem ser mirados e remirados quanto se queira, graças aos arqueólogos que os trouxeram à luz do dia.


O tempo da acção é a Idade de Bronze, cerca de 1750 a.C. Os habitantes da Península Ibérica já saíram da última idade da pedra (o Neolítico) há algum tempo, conhecem o cobre como metal e dominam agora a criação do bronze, primeira liga de metais (cobre e estanho), para forjar utensílios, adornos e armas. Mas estamos ainda muito longe da Idade do Ferro (cerca de 500 a.C.) e das tribos que os romanos encontram ao invadir a península (219 a.C).
O domínio do bronze está associado a profundas transformações na sociedade. Como se o progresso técnico trouxesse consigo uma nova ordem social, crescentemente hierarquizada, guerreira e masculina.


No romance, uma jovem debate-se entre duas representações do mundo, e entre duas religiões – a antiga e a nova. E se se revolta contra o novo estado de coisas e a violência dos novos costumes tem para isso uma excelente razão. Um leitor disse-me que escrevi não apenas sobre o primeiro alquimista... mas sobre a primeira feminista!


Há ainda uma história de amor. A heroína do romance, Breia, tenta nas primeiras páginas escapar ao seu destino e à brutalidade de costumes inspirados pelas novas divindades masculinas. Felizmente encontra abrigo numa aldeia... onde vive o outro herói da narrativa, Tor. Uma vez aceite, a jovem deveria em princípio submeter-se à autoridade do novo chefe mas, em vez disso, nada faz para evitar a aproximação do outro “rebelde”, o jovem aprendiz do fundidor.


Para além destes dois, há um “herói colectivo”, que é a própria aldeia da Fraga, com os seus habitantes. Aqui temos um pouco mais de “realidade palpável”, pois é possível sabermos hoje o seu tamanho, o aspecto das cabanas que a compunham, e o tipo de actividades a que se dedicavam os aldeões. Temos portanto o cenário pronto (graças aos arqueólogos!), basta-nos povoá-lo. E as personagens que o povoam correspondem ao que se sabe sobre esse período, em que as relações sociais elaboradas, a cerâmica, a tecelagem de panos e fabrico de vestimentas requintadas, de objectos puramente decorativos, a pastorícia e mesmo uma agricultura incipiente nos transmitem uma imagem de complexidade civilizacional notável, muito distante da Idade da Pedra. Entram aqui também os indícios de domesticação de cavalos selvagens, o que tornaria estas populações as primeiras da região a fazê-lo. Um outro herói da narrativa é precisamente um destes cavalos... e adivinhem quem o consegue amansar? Bom, vou deixar-vos ler o texto.


Nota: Garranos selvagens ainda podem ser vistos, hoje, no Parque Nacional da Peneda-Gerês.


Apesar das suas imperfeições, este livro é uma homenagem aos que procuram a sabedoria com amor, e sabem que é mais difícil cultivar um jardim que incendiar uma seara, que exige mais esforço tecer um tapete com fibras que se vão achando aqui e ali, que rasgar uma tela. A personagem da tecelã, Teixa, tece o pano de que se vestem as gentes como quem tece uma história. É paciente, sabe ouvir, está atenta aos outros. Gostei de a ter por companhia.


Para terminar, e porque este livro não existiria sem eles, queria agradecer:
- à editora Esfera dos Livros, por ter acreditado e investido no livro
- à Associação de Professores de História, através da sua presidente, Raquel Henriques, que me pôs em contacto com a editora
- ao Carlos Mendes e à Associação Terras Quentes de Trás-os-Montes pelo interesse e apoio dado ao projecto, desde o primeiro manuscrito
- a toda a minha família, já que todos participaram :
- ao meu pai arqueólogo, que me levou para as excavações desde pequena e respondeu a todas as minhas perguntas sobre a Idade do Bronze à medida que o romance ia avançando
- à minha mãe pela paciência, a confiança e as ilustrações!
- ao meu marido pelo apoio incondicional, o entusiasmo e as sugestões, quando a escrita “encalhava”
- e aos meus dois filhos que me deixaram alguns minutos de vez em quando para escrever... e inspiraram certas cenas que poderão descobrir neste romance.


 Boa leitura! Boa viagem!"


Sofia Martinez

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