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segunda-feira, 18 de julho de 2022

"Torto Arado" de Itamar Vieira Júnior

Houve um "hype" tão grande com este livro no Instagram que, embora ansiasse lê-lo para tirar teimas, também tive receio de lhe pegar e não sentir tudo o que falavam sobre ele.

O autor foi uma estreia para mim. Brasileiro. Não sei porquê mas tenho a ideia de não me conseguir concentrar na leitura de autores brasileiros pela musicalidade da escrita, pelos termos desconhecidos desta língua irmã. Li há muito Jorge Amado e foi precisamente essa musicalidade que me atraiu embora, sim, alguns termos ficassem pelo caminho sem os perceber. Outros, fui tirando pelo contexto. A mudança de narrador, que alterna entre estas duas irmãs, está perfeita. Serve para manter este mistério e fazer perdurar esta estranha sensação de não saber a quem aconteceu este facto importante que, obviamente, não vou revelar.

Algo parecido se passou aqui. Alguns termos não me chegaram ao entendimento e, sinceramente, não tive vontade de procurar o seu significado. E porquê? Porque a escrita e a história são tão fantásticas que só queria avançar na leitura.

É impossível não nos sentirmos presos por todas as personagens cativantes que povoam este pequeno livro, que se lê num ápice, especialmente pelas duas irmãs, Bibiana e Belonísia. O acontecimento tremendo que as marca definitivamente para o resto das suas vidas, tem contornos mais marcantes numa que noutra. Adorei o facto que não estar explícito em quem esse facto mais teve consequências físicas. E são páginas e páginas de uma escrita muito apelativa e de uma estória que não lhe fica atrás...

Como pano de fundo está um retrato muito intenso de um Brasil pós escravatura, com hábitos enrreigados tanto entre senhores/proprietários como entre trabalhadores ainda escravizados sem direitos nenhuns nas roças existentes. Essas roças continuaram a ser, por muito tempo, mundos fechados onde os donos eram muito mais que donos das terras: eram-no também dos destinos de quem lá trabalhava sendo muito difícil alguém sair desse futuro que lhe pertencia desde a nascença.

Um forte sentido de comunidade e de família, agrega toda esta população "escravizada" que vai despertando para as injustiças que lhes são cometidas há anos.

Lido em ebook, este é um dos livros a TER na estante porque é tão bom!

Terminado em 26 de Junho de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

Um livro comovente que traz a herança dos clássicos.

Bibiana e Belonísia são filhas de trabalhadores de uma fazenda no Sertão da Bahia, descendentes de escravos para quem a abolição nunca passou de uma data marcada no calendário. Intrigadas com uma mala misteriosa sob a cama da avó, pagam o atrevimento de lhe pôr a mão com um acidente que mudará para sempre as suas vidas, tornando-as tão dependentes que uma será até a voz da outra. Porém, com o avançar dos anos, a proximidade vai desfazer-se com a perspectiva que cada uma tem sobre o que as rodeia: enquanto Belonísia parece satisfeita com o trabalho na fazenda e os encantos do pai, Zeca Chapéu Grande, entre velas, incensos e ladainhas, Bibiana percebe desde cedo a injustiça da servidão que há três décadas é imposta à família e decide lutar pelo direito à terra e a emancipação dos trabalhadores. Para isso, porém, é obrigada a partir, separando-se da irmã.
Numa trama tecida de segredos antigos que têm quase sempre mulheres por protagonistas, e à sombra de desigualdades que se estendem até hoje no Brasil, Torto Arado é um romance polifónico belo e comovente que conta uma história de vida e morte, combate e redenção, de personagens que atravessaram o tempo sem nunca conseguirem sair do anonimato.
 
Cris

 

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