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sexta-feira, 29 de julho de 2022

"À Procura da Manhã Clara" de Ana Cristina Silva

Já li muitos dos livros publicados por Ana Cristina Silva, se não todos mesmo. Gosto da sua escrita simples mas, ao mesmo tempo, poderosa. Às vezes nem se dá por ela o que, a meu ver, é algo muito positivo.

Creio que é o caso deste livro. Saber contar uma história de alguém desconhecido por muitos, mas fazê-lo de uma forma clara, intensa, que nos agarre de imediato às palavras é mérito que tem de se atribuir ao autor, neste caso, à autora!

Faço parte do número de pessoas que não sabia da existência de Annie Silva Pais, filha do último director da PIDE, e gostei muito de ficar a conhecer toda a sua irreverência, vontade indomável, numa época em que as mulheres portuguesas pouco tinham a dizer ao país, muito menos ao mundo. 

Rebelde, num país que a queria submissa, Annie foi uma mulher fora da caixa e, aos poucos, soube o que queria fazer da vida, o que defendia e em que acreditava. Sempre em confronto com as ideias da mãe, que a queria dobrar às suas vontades, é, no entanto, com o pai, que adora, que vem a sentir mais desconforto devido aos ideais que abarca e que são o oposto dos preconizados pelo diretor da PIDE. Este dilema interno de amor/ódio vai marcá-la sempre. Defensora da liberdade e de ideais muito pouco salazaristas, é em Cuba que encontra o caminho que idealiza e que pretende seguir.

Muito, muito interessante, esta história, contada com mestria por esta autora, boa parte através de cartas que supostamente Annie escrevia mas não enviava. Apraz-me dizer que Annie era uma amante de literatura e adorei as referências a autores mencionadas aqui.

Gostei muito. 

Terminado em 18 de Julho de 2022

Estrelas: 5*

Sinopse

O retrato da filha do último diretor da PIDE, que abandonou tudo pela revolução cubana

Annie Silva Pais, filha de Armanda e Fernando Silva Pais, trocou o marido e uma vida confortável na sombra do Estado Novo pelos ideais da revolução cubana. E por amor. Assumiu paixões tão ardentes como o fogo revolucionário e tornou-se tradutora e intérprete, membro confiado da equipa de Fidel Castro, à qual pertenceu até morrer. Para trás deixou a família e Portugal, onde regressou apenas em 1975, em trabalho e também para interceder pela libertação de seu pai, que nunca deixou de amar. Silva Pais foi o último diretor da PIDE.

Que mulher foi Annie? O que a motivou? O que leva uma filha do regime – filha de um dos homens fortes do regime –, casada com um diplomata suíço, a largar tudo e encontrar um propósito como militante da revolução cubana? Mais: o que guardava o seu coração?

Ana Cristina Silva combina realidade e ficção num romance tão sedutor como a figura desta mulher. Pesando factos e indícios, oferece-nos um retrato pleno de intimidade – e humanidade – numa irresistível galeria de personagens, de entre as quais sobressai Che Guevara, o grande amor de Annie.

Cris


1 comentário:

  1. Desde que tomei conhecimento deste livro e desta autora (graças a este blogue :) ) que fiquei com muita curiosidade em conhecer a sua escrita.

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