Já li muitos dos livros publicados por Ana Cristina Silva, se não todos mesmo. Gosto da sua escrita simples mas, ao mesmo tempo, poderosa. Às vezes nem se dá por ela o que, a meu ver, é algo muito positivo.
Creio que é o caso deste livro. Saber contar uma história de alguém desconhecido por muitos, mas fazê-lo de uma forma clara, intensa, que nos agarre de imediato às palavras é mérito que tem de se atribuir ao autor, neste caso, à autora!
Faço parte do número de pessoas que não sabia da existência de Annie Silva Pais, filha do último director da PIDE, e gostei muito de ficar a conhecer toda a sua irreverência, vontade indomável, numa época em que as mulheres portuguesas pouco tinham a dizer ao país, muito menos ao mundo.
Rebelde, num país que a queria submissa, Annie foi uma mulher fora da caixa e, aos poucos, soube o que queria fazer da vida, o que defendia e em que acreditava. Sempre em confronto com as ideias da mãe, que a queria dobrar às suas vontades, é, no entanto, com o pai, que adora, que vem a sentir mais desconforto devido aos ideais que abarca e que são o oposto dos preconizados pelo diretor da PIDE. Este dilema interno de amor/ódio vai marcá-la sempre. Defensora da liberdade e de ideais muito pouco salazaristas, é em Cuba que encontra o caminho que idealiza e que pretende seguir.
Muito, muito interessante, esta história, contada com mestria por esta autora, boa parte através de cartas que supostamente Annie escrevia mas não enviava. Apraz-me dizer que Annie era uma amante de literatura e adorei as referências a autores mencionadas aqui.
Gostei muito.
Terminado em 18 de Julho de 2022
Estrelas: 5*
Sinopse
O retrato da filha do último diretor da PIDE, que abandonou tudo pela revolução cubana
Annie Silva Pais, filha de Armanda e Fernando Silva Pais, trocou o marido e uma vida confortável na sombra do Estado Novo pelos ideais da revolução cubana. E por amor. Assumiu paixões tão ardentes como o fogo revolucionário e tornou-se tradutora e intérprete, membro confiado da equipa de Fidel Castro, à qual pertenceu até morrer. Para trás deixou a família e Portugal, onde regressou apenas em 1975, em trabalho e também para interceder pela libertação de seu pai, que nunca deixou de amar. Silva Pais foi o último diretor da PIDE.
Que mulher foi Annie? O que a motivou? O que leva uma filha do regime – filha de um dos homens fortes do regime –, casada com um diplomata suíço, a largar tudo e encontrar um propósito como militante da revolução cubana? Mais: o que guardava o seu coração?
Ana Cristina Silva combina realidade e ficção num romance tão sedutor como a figura desta mulher. Pesando factos e indícios, oferece-nos um retrato pleno de intimidade – e humanidade – numa irresistível galeria de personagens, de entre as quais sobressai Che Guevara, o grande amor de Annie.
Cris
Desde que tomei conhecimento deste livro e desta autora (graças a este blogue :) ) que fiquei com muita curiosidade em conhecer a sua escrita.
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