Gosta deste blog? Então siga-me...

Também estamos no Facebook e Twitter

terça-feira, 29 de março de 2022

"Cadernos da Água" de João Reis

E se?

O mau (e o bom!) deste livro é que João Reis, tendo criado um mundo distópico, ele não é suficientemente longínquo para que consigamos entrar na história sem nos perguntarmos o que poderia acontecer connosco se fossemos afetados pelos mesmos problemas. Sobretudo porque muito do que é referido é assunto recorrente nos nossos dias.

E se?

São várias as personagens que dão voz a esta trama, às vezes apenas brevemente, outras de uma forma um pouco mais longa mas nunca deixando que os capítulos se alonguem muito. Leem-se, pois, de uma rajada. No entanto, a voz de Sara sobrepõe-se às outras. É o elo de ligação entre todas as personagens. Confesso que, pela sua história, foi a que mais me agarrou.

E se?

Neste mundo distópico a seca é extrema, as guerras sucedem-se, o número de refugiados multiplica-se a cada dia. Sara é mãe de Mariana e tenta não se apartar demasiado dela. Depois de algumas dias num terminal de aeroporto sueco, foram para um campo de refugiados. Mariana escreve o que se passa ao seu redor num caderno que possui. Escreve para si embora se dirija a Emanuel. Emanuel, seu companheiro e pai de Mariana, foi feito prisioneiro de Jonas e do seu grupo paramilitar. Não conseguiu apanhar o avião com elas. Dentro do campo, com a escassez de alimentos, de água e de roupas que se faz sentir, as  pessoas mostram o seu melhor e o seu pior também.

E se? E se tudo o que estamos a viver se complicar ainda mais?

Gostei muito deste livro. Pela escrita concisa, pela história tão actual. O final não podia ser outro. Quem sabe como, quando e se vai acabar esta guerra dos homens contra os homens e contra a natureza? 

Parabéns, João Reis, por esta obra! Espero bem que não acertes em cheio e que o mundo em que vivemos não se transforme numa guerra entre pessoas chefiadas por loucos, porcos e maus.

Terminado em 18 de Março de 2022

Estrelas: 5*

Sinopse

Num romance composto a múltiplas vozes, é feminina a voz que se sobrepõe, através do fio condutor de um caderno onde regista o seu dia a dia de refugiada na companhia da filha. O destinatário dos seus apontamentos é o marido, em parte incerta, e somos nós quem os lemos. São portugueses estes refugiados.

O Estado português dissolveu-se, e o território está sem lei. Deram-se as Guerras Meridionais da Água, o Primeiro e o Segundo Eventos, e até uma pandemia de rex-vírus 3, que se espalhou pela Europa, pelo Médio Oriente e pelo Norte de África. Os países do Norte fecharam as fronteiras e interromperam o apoio financeiro que vinham a dar aos países do Sul da Europa, a «taxa do deserto». A seca é extrema.

Uma narrativa distópica de leitura compulsiva a partir da primeira linha. Um romance construído com grande mestria e com um desenlace surpreendente. 

Cris

4 comentários: