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terça-feira, 16 de novembro de 2021

"O Lugar do Morto" de José Eduardo Agualusa

E quando Agualusa tem uma ideia brilhante e realiza várias psicografias de escritores falecidos (vinte e quatro para ser mais exacta, sendo que só há duas de mulheres!) e os coloca a falar sobre temas actuais ou pelo menos posteriores às suas mortes? Surge O Lugar do Morto, o título desta obra, livro já editado em 2011, resultado de crónicas várias que saíram na revista Ler e com as quais não tive contacto.

Repito, a ideia é brilhante! Alguns dos textos despertaram uma maior empatia em mim mas isso é normal. A escrita, então, é merecedora dos maiores créditos. Fez-me ter o "Priberam" aberto para consultar algumas palavras mas não desgosto disso! Ficam aqui algumas anotações, que fui fazendo no decorrer desta leitura, sobre algumas destas psicografias.

O primeiro texto, o de Eça de Queiróz, é uma alfinetada ao espírito português. Certeira. Os Portugueses Não Gostam de Asas. Os de agora, porque os "tugas" dos descobrimentos voaram sem saber bem para onde, tendo chegado a lugares inesperados!

O texto de Leopold Senghor foi um dos meus preferidos. A história africana por ele contada é simplesmente fantástica e a correlação entre ela e o destino de Angola bateu, a meu ver, no ponto certo.

A fina ironia do texto de Guillermo Cabrera Infante sobre livros editados postumamente é uma verdadeira delícia. Quando afirma que, se os livros dos escritores fossem editados postumamente, todos ficariam a ganhar e explica a razão pela qual acredita nisso, não pude deixar de me rir e até de lhe dar razão!!! Assim se o livro for bom enaltecerá o escritor, se for mau não o envergonhará visto ele já se encontrar num lugar onde os mortos repousam. :)

O texto de Euclides da Cunha mostra-nos como a vida de alguém pode atingir muito mais além do que a imaginação do Homem permite. Nossa! Que horrível deve ter sido este senhor!!! Pesquisem um pouco sobre este escritor brasileiro.

Outros dois textos que achei deveras pertinente foi o de Camilo Castelo Branco e a sua (possível!) dissertação sobre as diferenças da leitura no seu tempo e no nosso. A leitura como uma experiência para ser partilhada oralmente vs a leitura como um momento íntimo de isolamento. O outro texto foi o de Tomás Eloy Martinez onde ele reflete sobre a ligação entre o poder e a permanência. "Todo o poder reflete uma vontade de permanência. O poder totalitário quer ser eterno". Muito pertinentes, ambos.

Mas, para quem como eu não é muito fã de contos e afins, estes textos possuem um defeito. São pequenos demais e obrigam-nos a recomeçar vezes sem fim... Mas isso, confesso, é algo com que ainda não sei lidar. Gosto de me prolongar na leitura, passear demoradamente nos meandros de um tema, seja ficção ou não. Esta mudança constante de personagem principal não é do meu agrado. Mas isso tem a ver com o meu gosto pessoal. Não sei se teria paciência de ler um por dia mas assim, todos de repente, reconheço que também não foi a melhor opção.

De qualquer das formas não posso negar que gostei muito de conhecer certas particulariedades de escritores que são também políticos, músicos e muito mais!

Terminado em 14 de Novembro de 2021

Estrelas: 4*

Sinopse

Num exercício de simbiose literária absolutamente original, Agualusa dá voz a grandes escritores, levando-os a comentar o mundo e a actualidade:

Jorge Luis Borges comenta a concentração dos grandes grupos editoriais.

Fernando Pessoa conversa com a fadista Ana Moura. Machado de Assis discursa sobre o novo Acordo Ortográfico, Portugal e o Brasil.

Sir Richard Burton, escritor poliglota, indigna-se contra fronteiras e perseguições de imigrantes.

Jorge Amado rasteira os patrulheiros do politicamente correcto. Vinicius de Moraes louva o músico e escritor Chico Buarque.

Sophia de Mello Breyner aprecia Mia Couto e fala do amor.

Saint-Exupéry está convicto da superior taxa de sucesso dos escritores-aviadores.

Padre António Vieira defende o futuro do português e a criação de uma Academia da Língua Portuguesa.

Camilo Castelo Branco delicia-se com as leituras públicas e abomina os e-books...

4 comentários:

  1. Acredito que seja um livro super interessante de ler.
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    Um dia feliz … cumprimentos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. Nunca li nada deste autor mas recentemente tenho me deparado com livros dele e tenho alguma curiosidade!

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  3. Um livro com uma narrativa diferente, mas muito curiosa.

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