Livros sobre o Holocausto habitam as minhas estantes dos "lidos" e nas dos "por ler". Nunca me canso deles e, com isso, aprendo sempre algo mais sobre essa época tão ignóbil da nossa História.
Este é mais um… Trata-se de uma história verídica, a vida de Edith Hahn Beer, uma rapariga judia vienense, estudante de Direito, que fez tudo o que pôde para sobreviver. A sorte esteve do seu lado ao colocá-la perto de algumas pessoas amigas que conheceu e que arriscaram as suas vidas em momentos dramáticos da sua.
É muito difícil falar-vos de tudo o que ela passou. Desde campos de trabalho agrícola onde era tratada como escrava; à passagem à clandestinidade, assumindo a identidade de uma amiga, não judia, que salvou a sua vida ao disponibilizar os seus documentos dizendo às autoridades que os tinha perdido no rio; até ao namoro e casamento com um oficial nazi que, mesmo sabendo a verdade, não a denunciou. Passara a ser uma “u-boat” ("submarino"), termo que desconhecia e se refere a todos os sobreviventes que se conseguiram salvar escondidos dentro da nação nazi. Independentemente de tudo, do terror vivido, teve sorte.
A vida no pós-guerra nāo lhe foi fácil também. Com uma criança nos braços teve de fazer escolhas e sobreviver. A sua luta ainda nāo tinha terminado. Muitos anos volvidos ela conta a sua história. Porque não o fez antes? A razão prende-se com a necessidade que os sobreviventes sentiram em esquecer o quanto possível e o mais depressa que conseguiram tudo o que tinham passado e começarem a viver uma nova vida, se possível retomarem a vida que lhes roubaram. “Deixámos o passado flutuar para longe, como destroços no mar, na esperança de que acabasse por se afundar e sair da memória”.
Dois pequenos apontamentos que anotei para pesquisar sobre eles: o primeiro diz respeito a um facto relatado aqui e que me fez querer saber mais sobre a vida de Thomas Mann, Nobel que escreveu o célebre “A Montanha Mágica”, entre outros. Conta Edith que, quando teve coragem de retirar a peça do rádio que impedia de sintonizar outras frequências, nomeadamente a BBC, tal era o terror em que vivia e o medo de ser descoberta quase no final da Guerra, uma das vozes que ouviu foi a do escritor alertando para a existência dos campos de extermínio que muitos consideravam somente campos de trabalho forçado. Caiu-lhe o mundo em cima. A esperança que a sua mãe tivesse sobrevivido ruiu…
O segundo aspecto foi a referência sobre o memorial do Holocausto em Israel, Yad Vashem, que gostaria de visitar, onde foram plantadas árvores e afixadas placas, em nome e com o nome, de algumas pessoas que, contra todo o ambiente anti-semita que se vivia, ajudaram e esconderam judeus (os denominados “Justos entre os justos”).
Que dizer mais? Um livro obrigatório!
Terminado a 10 de Maio de 2018
Estrelas: 6*
Sinopse
Aqueles que não testemunharam do Holocausto, às vezes, têm dificuldade
em perceber o quão profundamente isso afetou a vida na Europa durante os
decénios de 30 e 40 do século XX. À medida que a Alemanha nazi estendia
os tentáculos a todo o continente, populações inteiras foram
despojadas, deslocadas e destruídas.
Edith Hahn Beer levava uma vida normal em Viena, no seio de uma família
judia. Fora uma adolescente popular e tornara-se uma estudante de
Direito extremamente bem-sucedida. Estava envolvida nos grandes debates
políticos da época. Estava apaixonada. O seu futuro desenrolava-se à sua
frente como uma passadeira vermelha. E, de repente, tudo terminou.
Quando Hitler invadiu a Áustria em 1938, Edith ficou sem futuro.
No coração da Alemanha nazi, escondendo a sua identidade em casa e no
trabalho, Edith viveu com o medo constante de ser descoberta. Foi ali
que conheceu Werner - destacado membro do Partido Nazi -, que se
apaixonou por ela e a pediu em casamento, mantendo a sua identidade em
segredo. A filha de ambos viria a ser considerada a única judia a nascer
num hospital do Reich em 1944.
Alguns anos depois, a Alemanha foi derrotada e Edith continuava viva.
Sobreviveu quando milhões de judeus foram exterminados. Este livro conta
a história de como esta mulher conseguiu manter o seu disfarce e de
como, graças a uma sorte aleatória e à intervenção de algumas pessoas
boas, foi diversas vezes resgatada da morte.
A Mulher do Oficial Nazi podia ser outro livro sobre o Holocausto
e a Segunda Guerra Mundial, o que já seria notável. Mas é, além disso,
um relato verdadeiro, dramático e emocionante de uma mulher
extraordinária que sobreviveu ao maior genocídio da história da
Humanidade, sem pretender ser corajosa, famosa ou lembrada. Ela apenas
quis sobreviver.
Cris
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