
Neste caso, nesta história contada por Cristina Norton, não existiu realmente o rapaz do pombo. Ou, melhor, existiu sim em milhares de crianças que não tiveram a oportunidade de seguir com os seus sonhos para a frente. Milhares que tiveram de crescer depressa demais, perdendo a sua inocência muito rapidamente. Mas, a história verídica de alguns sobreviventes do Holocausto foi, inteligentemente, introduzida nesta trama, acrescentando uma enorme mais-valia a este romance, que, de facto, adorei!
Embora haja algumas mudanças de narrador, "O Rapaz e o Pombo" é o narrador mais frequente. De quando em vez, uma alteração na grafia do texto, alerta-nos para um novo narrador e muitas vezes o leitor não se apercebe logo de quem se trata, aguçando com este facto a sua curiosidade.
Inteligente, bem escrito, conseguindo colocar-se tanto na pele de uma criança inocente como na de um adulto sofredor, Cristina Norton deve orgulhar-se desta sua obra. Tanto mais que o sofrimento, a incerteza e o desespero que transparecem nos personagens estão magnificamente retratados! Por outro lado, e isso foi um facto que gostei bastante, pelo percurso de fuga dos personagens conseguimos ter uma visão geral de como se viveram esses tempos (antes e pós guerra) em vários países europeus e outros: a aridez, a desconfiança, o horror mas também a solidariedade escondida que levava à esperança.
Às vezes, com a minha sofreguidão para devorar as palavras, deixo escapar pormenores. Não vos posso contar o que me aconteceu nesta leitura sem revelar a trama que ela encerra, mas digo-vos apenas que cheguei ao final sem dar conta do que tinha acontecido ao pequeno rapaz que chegou a preferir não crescer para não perceber o que se passava à sua volta... Tive de voltar a trás, reler uma parte e entender finalmente o que não quis perceber de imediato, talvez pela subtileza com que esse acontecimento foi narrado. Isso encantou-me, sem dúvida alguma.
Este livro, um convite à reflexão, é para ler!
Terminado em 27 de Novembro de 2016
Estrelas: 5*
Sinopse
A história, passada entre os anos 1930 e 1958, gira à volta de três personagens. A principal é um rapaz judeu, que descobre o ódio, o desalento, a ternura e o amor à vida. As personagens à volta dele representam todas as pessoas que passaram por uma das maiores injustiças de todos os tempos. Cristina Norton sentiu também que tinha o dever de escrever e denunciar o que por vergonha as mulheres que haviam sido obrigadas a prostituir-se nos campos de concentração não ousavam contar.