O que eu mais queria, quando miúdo, era mudar o mundo. Cedo me apercebi das suas injustiças e, se quiser ser totalmente sincero, houve uma altura em que consegui acreditar que tinha nascido para as endireitar. Já adolescente, esforcei-me por aprender a tocar guitarra. Os acordes certos e uma letra acutilante podem mudar muita coisa. Continuo a acreditar nisso. Tempos depois, pousei a guitarra e peguei na caneta. Continuava um miúdo cheio de ilusões, mas tocar bem guitarra deixou de ser uma delas. Dediquei-me a cimentar palavras umas nas outras. Tinha coisas para dizer ao mundo, eu sentia-as a latejar dentro do peito.
Pelos dedos, foram-me escorrendo linhas e anos de vida. As linhas foram-se tornando textos, que se foram avolumando numa gaveta. Não por timidez.
Sempre li muito, comparava-me com os mestres e era como ir jogar à bola, depois de ver um jogo do Ronaldo ou do Messi. Os anos, esses seres implacáveis, além de quilos e cabelos brancos, deram-me a melhor das princesas e dois filhos que me devolvem sorrisos e um mágico brilho nos olhos a cada instante. Também por eles, escrevo ainda. Continuarei sempre a escrever.
Os textos, esses, vão saindo aos poucos da gaveta. Alguns talvez se transformem em livros que deixarão tudo na mesma. Se há esperança que acalento ainda, é a de que os meus filhos se transformem em fantásticos seres humanos. Se há coisa de que o mundo precisa para poder mudar, é tão só isso.
E eu quero muito dar o meu pequeno contributo.
Rui Miguel Almeida
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