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terça-feira, 21 de abril de 2015

A convidada escolhe: "APÁ SÓCE, DESLARRGAME DA MÃO" E NÃO SÓ

Depois dum prolongado e profundo silêncio, mas sempre acompanhada da companhia fiel e amiga dos livros, não consegui resistir ao apelo do meu herói de Setúbal.
Chegou-me há dias à caixa do correio o pequeno pacotinho do 3º livrinho, depois duma hilariante conversa telefónica travada no 1º de Abril. Moral da história: serão prolongado, recheado de boa disposição e excertos lidos em voz alta.
Com a graça a que Rui Garcia (perdão, o Charroque) já me habituou, desta feita fez um apanhado de 38 posts do bem humorado blog com algumas daquelas minhas personagens já minhas conhecidas.
Vai daí. dei comigo a pensar num romance histórico que em tempos li e me arrebatou, da autoria de Alice Brito chamado "As mulheres da Fonte Nova".
Saltei da cama, fui à estante e com delícia reli um excerto sublinhado que não resisto a partilhar.
Então lá vai.
..."Pátria, mesmo, era a cidade. Até a língua própria tinha, com os erres a dobrarem-se ali num ângulo da gorja. Quem quiser sentir esta cidade tem de falar a sua língua. Os lábios têm de tentar arranhar os erres da sardinha, do carapau, e do xarroco, que se estendem algures entre o céu-da-boca e a garganta; a memória deve fixar os tiques linguísticos nasalados que cortam ou amachucam, por vezes as últimas sílabas.
Mesmo que não se consiga uma imitação perfeita já é uma tentativa de entendimento, um passo em direcção à alma única que se esconde nesta pronúncia singular, neste texto expressivo que a cidade recita já há séculos e ninguém ouve, ou quando ouve é para troçar, esse esforço, esse arranhão do pio.
Esta pronúncia, esta especial coreografia da fala, é a cidade nascida da cidade. Respeito, respeitinho, porque normalmente a cidade-pronúncia é de várias gerações com genealogias de mar, de grão salino, portanto de sangue de um azul que o rio emprestou".

Ana Mafalda Salvado

Nota:
Por dificuldades técnicas não se conseguiu verticalizar a foto do livro, encontrando-se na horizontal.
Cris

1 comentário:

  1. É realmente um romance muito interessante As Mulheres da Fonte Nova, a Alice Brito consegui retratar muito bem aquelas gentes de Setúbal numa época bem dificil.
    Um abraço.
    Uma boa semana.

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