Sarah Addison Allen é uma contadora de histórias que tocam fortemente o irreal e quando leio os seus livros recuo no tempo e entro na magia das histórias infantis. Não que os seus livros sejam livros para serem lidos por crianças, mas por recriarem as atmosferas desses contos.
Em "Lago Perdido" vemos "renascer das cinzas" uma mulher que quase se perdeu no luto e quase perdeu a sua filha, Devin. Devin é a verdadeira personagem encantada deste livro. É a sua força que "acorda" a mãe da sua dormência e a autora cria-a quase como se se tratasse de uma pequena fada. As combinações surreais de roupas que chegam a incluir o uso de asas de anjo e o facto de ver e falar com amigos imaginários que nos são credíveis são o seu elemento mágico e encantatório.
E é encantados pelas personagens que Sarah Addison Allen nos faz flutuar entre magia e realidade, passado e presente, sentimentos de culpa e ganância, ambição política, cinismo e ingenuidade, num romance leve mas também algo lúgubre como as águas do lago perdido de Suley.
Uma escritora que acompanho desde o primeiro romance, o meu preferido até hoje, e que continuarei a acompanhar pelos momentos de magia e de evasão que consegue trazer colados às suas histórias.
Excertos
"(...) – Ensinei literatura durante quase quarenta anos. Os livros que li quando tinha vinte anos mudaram por completo quando os li aos sessenta. Sabem porquê? Porque os finais mudaram. Depois de acabarmos de ler um livro, a história ainda continua na nossa cabeça. Nunca se pode alterar o início. Mas pode sempre alterar-se o fim. É o que está aqui a acontecer." (p.145)
"(...) Eby sabia muito bem que existia uma linha ténue quando se tratava da dor. Se a ignoramos, ela vai-se embora, mas depois volta sempre quando menos se espera. Se a deixamos ficar, se lhe arranjamos um lugar na nossa vida, ela fica demasiado confortável e nunca mais se vai embora. Era melhor tratar a dor como se fosse um hóspede. Aceitamo-la, servimo-la e depois mandamo-la seguir o seu caminho. " (p.148)
Fernanda Palmeira
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