“Assim, mas sem ser assim” é o mais recente livro de Afonso Cruz publicado esta semana e cujo público-alvo são os mais novos. No entanto, este autor tem a capacidade de atrair miúdos e graúdos nestes seus livros que divertem, brincando com as palavras levando os mais novos a compreenderem os vários sentidos que certa palavra pode ter dependendo do contexto e fazendo-o sempre com bastante humor, não esquecendo a curiosidade e admiração tão característica das crianças e que muitas vezes, nós, mais velhos, já esquecemos ou já perdemos. Para além destes ingredientes, é de referir o aspeto pedagógico sempre presente nas obras de Afonso Cruz chegando mesmo a levantar questões relacionadas com a tolerância e a cidadania.
“Assim, mas sem ser assim” conta-nos a história de um rapaz que nos descreve como são alguns dos seus vizinhos não esquecendo as suas características físicas, psicológicas e até as suas manias, mas tudo visto através do olhar de uma criança.
Este novo livro “Assim, mas sem ser assim” é uma mistura simpática e muito bem conseguida de “O Livro do Ano” com “A Contradição Humana” na medida em que apresenta textos mais elaborados e complexos, mas acessíveis à compreensão de uma criança ao ponto de a fazer questionar e… sorrir também.
Excertos:
“A pessoa que é namorado da pessoa do 3C, modelo muito magra e tão extremamente elegante, gosta muito de viajar e já esteve em cerca de duzentos países, número que, depois de me informar, parece ser o máximo de países que a Terra aguenta. Comunicou-me que já comeu coisas que ele chama de:
Exóticas (será assim que se escreve?)
Entre as várias exóticas que já comeu, incluem-se insectos como baratas e gafanhotos. E ratos, que, não sendo um inseto, também é um exótico. É capaz de comer qualquer coisa, comunicou-me ele.
E escorpiões?
Sou capaz.
E sapos? Dizem que são difíceis de engolir.
Sou capaz.” (p. 8)
“(…) Comunicou-me a pessoa do 8A: Aproveito o lixo para fazer coisas novas, como candeeiros, canteiros, lavatórios e muito mais, que é assim que o universo faz as coisas. Por exemplo: com a palavra lama podemos fazer a palavra alma.
Parece magia, comuniquei eu. Mostre-me as suas mãos. (p. 16)
“Subi as escadas com a pessoa do 3A (…). Comunicou-me que gosta muito da natureza, de andar descalço (…), e de dormir ao relento, debaixo das estrelas.
É o meu cobertor favorito. Um hotel de cinco estrelas é pouco para mim, preciso de um com muitas mais estrelas.
Cinco não chegam?
Só me satisfaz o infinito.
É um número muito grande, não é?
É, mas consegue-se domesticá-lo e fazer com que caiba numa só noite. Uma noite bem passada nunca mais acaba.” (p. 22)
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