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terça-feira, 28 de agosto de 2012

A convidada escolhe... Sem ti, Inês


Este é um livro que queremos ler mas que, ao mesmo tempo, temos medo de o fazer... Abre-nos uma porta para sentimentos tão fortes e tão verdadeiros que temos medo de nos intrometer e de pisar terrenos desconfortáveis e para os quais não estamos preparados. E como é possível estar preparado? (Cris)

Nem sei o que dizer sobre esta leitura...

Posso começar por dizer que terminei o livro literalmente lavada em lágrimas. Ana Granja, uma mãe em luto, faz com este livro uma verdadeira revolução na mente do leitor, não creio ser possível ler e ficar indiferente.

Inês, uma jovem como tantas outras, em apenas seis meses perde a batalha com a anorexia nervosa, apesar de ter morrido de pneumonia, foi a anorexia que não lhe permitiu resistir.

A dor de sua mãe é neste livro exposta duma forma muito sóbria, intimista e humana. Ana Granja faz uma autêntica dissecação do processo do luto ao escrever este livro que, embora sirva os seus propósitos de vir a ajudar outros pais que passem pelo mesmo, serve principalmente de catarse ao seu sofrimento.

Queria escolher um parágrafo que fosse marcante no livro e à medida que o ia lendo fui colocando um post-it nas páginas onde encontrava algo mais adequado mas, quando cheguei ao fim do livro tinha 26 parágrafos assinalados...
Acabo por destacar apenas dois que me tocaram mais profundamente devido às
verdades que encerram:

«Dependendo, claro está, de flutuações geográficas e imposições sociais, todos nós vamos tomando consciência da morte e aprendendo a lidar culturalmente com ela. Interiorizamos o carácter efémero da vida, aceitamos a inevitabilidade da morte e preparamo-nos para o fim daqueles de quem mais gostamos. Muitas dessas perdas possuem até uma designação própria: quem perde um dos pais fica orfão, quem vê morrer o cônjuge fica viúvo. E quem perde um filho? Até a linguística se esqueceu de contemplar este desígnio, tão inesperado quanto devastador...»
Pág. 39

« O desaparecimento da minha filha fez-me perceber que a felicidade é feita de
pequenos nadas, de momentos soltos, fragmentos da vida, bem temperados pelo calor dos afectos. Lamentavelmente, a maior parte das vezes, o investimento desenfreado no futuro, a ânsia dessa utopia a que chamamos Felicidade, impede-nos de fruir esses momentos na sua plenitude. Outras vezes, são outros pequenos nadas, outros fragmentos da vida que estupidamente deixamos que ensombrem o brilho e a perfeição daqueles instantes.»
Pág. 131

Embora este livro possa estar directamente relacionado com todos aqueles que tal
com a autora sofreram a perda de um filho, não deixa de ser indirectamente um livro importante para todos nós, quer tenham ou não perdido um filho.

Este livro contém sentimentos únicos e intransmissiveis mas também passíveis de serem compreendidos e assimilados por quem o lê. Não é uma leitura nada fácil mas que deveria ser feita por todos, com abertura e sensibilidade suficientes para perceber as lições nele contidas.

Ana Granja é licenciada em Filosofia e na altura em que este livro foi editado, estava a frequentar o curso de Doutoramento em Didáctica e Formação tendo como tema do seu projecto de investigação o papel da escola no suporte aos alunos enlutados.

Para terminar, é um livro dramático, sofrido, extremamente tocante e sem sombra de dúvidas um dos melhores livros que li acerca do tema da perda de um ente querido.

Teresa Carvalho

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