Para além disso, sabendo que o autor transportou uma realidade vivida para o papel e com a perspectiva da sua presença na sessão do grupo, acreditei que a leitura desta obra me faria conhecer um pouco mais o homem que está por detrás do escritor.
Hugo Gonçalves mostrou-se falador e comunicativo. Expressa no seu discurso oral um tom que reconheci no seu discurso escrito. Foi um prazer ouvi-lo falar da sua obra, do que pretendia com ela. Embora se tratasse de um tema pesado - a morte de sua mãe quando criança, com oito anos, e o que foi crescer sem ela - que o marcou profundamente, não queria um livro lamechas nem tampouco manipular os sentimentos do leitor.
E foi isso que senti de facto. Falando de si, da sua infância junto com o seu pai e irmão, Hugo faz uma reflexão sobre o luto mas sem pieguices. É pois um livro autobiográfico, sendo a escrita um veículo para falar no luto, no seu e da sua família mais próxima.
Acredito que tenha sido uma viagem de autoconhecimento. Procurar a mãe ao fim destes anos todos foi entrar em si e nos que lhe são próximos. É um livro de memórias e elas nem sempre constituem a verdadeira realidade, mas são as memórias que possuímos que nos marcam para a vida e foi isso que achei que estivesse aqui espelhado. "Quem fica continua a amar aquilo que a morte tocou".
Gostei tanto do livro como de ouvir o seu autor.
Terminado em 30 de Março de 2023
Estrelas: 5*
Sinopse
Um texto autobiográfico, tão comovente quanto surpreendente, sobre o que é crescer sem mãe. Lê-se como um romance mas é feito de vida.
Perto de fazer quarenta anos, Hugo Gonçalves recebeu o testamento do avô materno dentro de um saco de plástico. Iniciava-se nesse dia uma viagem, geográfica e pela memória, adiada há décadas. O primeiro e principal destino: a tarde em que recebeu a notícia da morte da mãe, a 13 de Março de 1985, quando regressava da escola primária.
Durante mais de um ano, o escritor procurou pessoas e lugares, resgatando aquilo que o tempo e a fuga o tinham feito esquecer ou o que nem sequer sabia sobre a mãe. Das férias algarvias da sua infância aos desgovernados anos de Nova Iorque, foi em busca dos estilhaços do luto a cada paragem: as cassetes com a voz da mãe, os corredores do hospital, o colégio de padres, uma cicatriz na perna, o escape do amor romântico, do sexo e das drogas ou uma road trip com o pai e o irmão. Sem saber o que iria encontrar na viagem, o autor percebeu, pelo menos, uma coisa: quem quer escrever sobre a morte acaba a escrever sobre a vida.
Esta é uma investigação pessoal, feita através do ofício da escrita, sobre os efeitos da perda na identidade e no caráter. É um relato biográfico —tão íntimo quanto universal —sobre o afeto, as origens, a família e as dores de crescimento, quando já passámos o arco da existência em que deixamos de fantasiar apenas com o futuro e precisamos de enfrentar o passado. É também, inevitavelmente, uma homenagem à figura da mãe, ineludível presença ou ausência nas nossas vidas.
Finalista dos Prémios Literários PEN Clube e Fernando Namora.
Cris
Um título muito sugestivo, apelativo. Imagino ser de uma boa leitura
ResponderEliminar.
Abri um blogue de poesia. Gostava que o conhecesse, visitando. Obrigada.
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ilusoesepoesiaadulta – (sem vernáculo)
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Conheço o Hugo pelo seu Podcast Sem Barbas na Língua, mas ainda não li nenhum dos seus livros. Grande falha minha, mas a curiosidade só cresce quando leio artigos como o teu ;)
ResponderEliminarNão Digas Nada a Ninguém
Bastante interessante!
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Coisas de uma Vida
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Beijos, boa noite!
Do autor, li "O Caçador do Verão" e gostei muito. Gostaria, igualmente, de ler este.
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