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terça-feira, 15 de junho de 2021

A Convidada Escolhe: "Filhos e Amantes"

Filhos e Amantes, D. H. Lawrence, 1913

Sem deixar de ir lendo as “novidades”, foi uma das intenções que formulei no início deste ano, ir descobrir livros há muito comprados e “esquecidos” na estante e ler e devolver alguns livros emprestados. Desta vez fui descobrir D. H. Lawrence e “Filhos e Amantes”. Confesso que foi uma leitura demorada e, ao longo das suas mais de quinhentas páginas, por vezes achei que algumas partes e passagens podiam ter sido mais encurtadas, que por vezes as descrições não precisavam de ser tão frequentes e minuciosas… mas, no final, a característica deste livro também tem esses aspectos, quer se goste, quer não.

Entrei no ambiente da época, com este livro. Inglaterra vitoriana, região mineira das Midlands, famílias numerosas, pobres, em que as mulheres são o coração e suportam sozinhas não só a maternidade como o equilíbrio numa conjugalidade feita de desencanto, de frustração, de ausência. Maridos rudes e ausentes, numa vida de trabalho difícil e precária, encontram na taberna, ao fim do dia, com os outros homens, o suporte para aguentar a dureza da mina. Mulheres sofridas, que encontram refúgio no amor aos filhos, na espiritualidade, na leitura, na paixão pela natureza e também mulheres que iniciam um caminho de abertura e independência, aderindo aos ideais sufragistas ou frequentado associações como a “Women’s Gild”. O romance não deixa também de abordar a dureza e a perigosidade das longas jornadas de doze horas de trabalho nas fábricas e nas minas e a resistência dos mineiros através de greves prolongadas e da solidariedade de classe, sempre que há um desastre que vitima um dos companheiros. Foram todos estes aspectos que achei muito interessantes, para além das descrições das paisagens e o tratamento dos sentimentos das personagens ao longo do livro. 

A família Morel – Walter, o pai, Gertrud, a mãe e Paul, um dos filhos – Miriam e Clara são as personagens centrais do romance. Gertrud canaliza todo o seu afecto para os filhos, sobretudo para Paul, que é o seu confidente e companheiro. A trabalhar numa fábrica em Nottingham e dedicado à pintura nos tempos livres, Paul devota de tal modo à mãe, todo o seu amor, que não consegue libertar-se de modo a corresponder a um relacionamento e a um casamento com alguém da sua idade. Miriam e Clara são em tudo opostas. Se a primeira é tímida e tem dificuldade em sair do amor casto e místico que dedica a Paul, Clara, uma mulher separada e a trabalhar na mesma fábrica de Paul, tem uma visão crítica sobre os homens e sobre o que os move, é uma mulher mais liberta e independente. Mas a dedicação de Gertrud bloqueou no filho a sua capacidade de poder amar outras mulheres e retirou-lhe a autonomia e a possibilidade de ser feliz sem ela. O amor maternal exclusivo e egoísta que não permite que o filho cresça emocionalmente torna-o incapaz de se dedicar a outra mulher que não seja a mãe. 

Independentemente de uma caracterização psicológica e física bastante detalhada de todas as personagens, podemos dizer que, na generalidade, os homens são aqui tratados como uns brutamontes, incapazes de demonstrar sentimentos. Paul, tímido e sensível, sai fora desse padrão mas, no entanto, tal como os outros homens, é imaturo, inconstante e trata o amor como um brinquedo que rapidamente se desgosta e que descarta. Miriam, uma jovem tímida e pouco sociável, dominada pelo peso da religião e dos preconceitos religiosos e disposta a todos os sacrifícios, mantém no entanto a chama da revolta contra a condição de inferioridade das mulheres e deseja aprender coisas novas e sair da rotina que a enfastia. As mulheres deste livro não são figuras apagadas, antes assumem um papel forte e destacado.

Depois dos dilemas e das escolhas que as personagens vão fazendo ao longo do romance, a morte de Gertrud deixa Paul só e sem perspectiva de futuro. Cabe a cada leitor/a decidir. 

9 de Junho de 2021 

Almerinda Bento

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