Este livro tem apenas 159 pág. e, no entanto, tem tanto para nos dar. Creio que a vida e obra deste psicoterapeuta foi baseada nisso mesmo: em dar. Como referiu um seu aluno, "o sentido da sua vida foi ajudar os outros a encontrar um sentido para as suas vidas".
Resumindo, mas não "spoilando": Viktor formou-se em Neurologia e doutorou-se em Psiquiatria. Encontrava-se em Viena quando, ao optar por ficar aí para ajudar a tomar conta dos seus pais em vez de aceitar um visto para a América, foi apanhado pela guerra. Passou por quatro campos de concentração, de entre os quais Auschwitz. Sobreviveu. A sorte esteve, em muitos aspectos e opções que tomou, do seu lado. As decisões arbitrárias de quem mandava deixava muito ao factor sorte a vida de quem era prisioneiro. Mas terá sido só isso? O que o manteve vivo e não o fez desistir? Viu muitos colegas deixarem-se invadir pela morte e desistir da vida. Sem esperança.
Depois da libertação, os prisioneiros enfrentaram aquilo que já não esperavam: a indiferença de quem esteve cá fora, os seus entes queridos que não regressaram, no fundo a destruição dos sonhos que os mantiveram vivos. Como superar tudo de novo quando pensavam que o pesadelo tinha já terminado?
Este livro tem duas partes distintas. A primeira é duríssima. Contando vários episódios que se passaram com ele e com quem estava junto dele, Viktor dá-nos conta de pequenos e, ao mesmo tempo, profundos e intensos acontecimentos que podiam fazer alguém simplemente desistir.
O que faz uma pessoa aguentar? A que se agarra? Que sentido encontra para se manter à tona apesar de tudo o que vê à sua volta? Antes de ser preso, Viktor já pensava neste assunto e estava a escrever um livro sobre este argumento: a procura de um sentido, seja ele qual for, é a chave para a saúde mental. Depois durante os anos em que esteve nos campos, teve de procurar, para si, o sentido da sua existência.
A segunda parte deste livro é uma explicação mais aprofundada, escrita anos depois, da sua teoria, a Logoterapia (Logos = sentido). Penso que terá muito mais interesse a quem se propõe estudar esta área do saber.
Surpreendente. Uma obra que será, certamente, editada pelo dobro das vezes que já foi. E não foram poucas, não senhor! Como o próprio autor refere "este livro não se debruça sobre os grandes horrores (...) mas sobre a imensidão de pequenos tormentos". Foi isso que mais me impressionou.
Terminado em 5 de Agosto de 2019
Estrelas: 5*
Sinopse
Nos seus momentos de maior sofrimento, no campo de concentração, o jovem psicoterapeuta Viktor E. Frankl entregava-se à memória da sua mulher - que estava grávida e, tal como ele, condenada a Auschwitz. Conversava com ela, evocava a sua imagem, e assim se mantinha vivo. Quando finalmente foi libertado, no fim da guerra, a mulher estava morta, tal como os pais e o irmão. No entanto, ele alimentara-se de outro sonho enquanto estava preso, e, este sim, viria a realizar-se: projetava-se no futuro, via-se a falar perante um público imaginário, e a explicar o seu método para enfrentar o maior dos horrores. E sobreviver. Viktor E. Frankl sobreviveu. E até morrer, aos 92 anos, divulgou por todo o mundo o método desenvolvido no campo de concentração - a Logoterapia. O psicoterapeuta descobriu que os sobreviventes eram aqueles que criavam para si próprios um objetivo, que encontravam um sentido futuro para a existência - fosse ele, por exemplo, cuidar de um filho ou escrever um livro. Em O Homem em Busca de um Sentido, escrito em 1946, o autor narra na primeira parte a sua dramática luta pela sobrevivência. E na segunda, em breves páginas, sintetiza os mais de 20 volumes ao longo dos quais desenvolveu o seu método - aplicável a qualquer pessoa, em qualquer circunstância da vida.
Cris
Um livro essencial, um dos meus favoritos.
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