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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

"Princípio de Karenina" de Afonso Cruz

Nāo sou muito dada a gargalhadas quando leio um livro. É mais fácil soltar uma lágrima do que conseguir que a minha garganta se liberte e se ria... Mas sabem quando vocês nāo se conseguem conter e riem baixinho, quase interiormente? Foi o que aconteceu comigo neste livro. É a escrita de Afonso Cruz no seu melhor. Vou-vos mostrar um exemplo...

O narrador faz um périplo pela sua infância caminhando pelos seus oito anos até à idade adulta. Às tantas referindo-se a uma tia, comenta: "Eu ia com as tias à missa, incluindo aquela que ia morrer dali a seis meses." Assim, a seco. Nāo segurei o riso interior, aquele que nos faz abrir o sorriso cá de dentro.

Com capítulos pequenos, esta história é contada na primeira pessoa. O narrador, filho único, dirige o seu discurso a uma filha. Relembra o passado e vai desfiando pequenos acontecimentos enquanto salta no tempo sem que o leitor se dê conta disso. Ele (como se chama mesmo esse pai? Será que alguma vez o seu nome foi referido?) possui uma deformidade num dos pés (pé boto), que sente como tal, enquanto que para sua māe é vista como algo positivo que o livrará de problemas maiores. Mais do que o pé deformado, ele entende que a educaçāo dada pela figura parental é que o impediu de viver, conhecer mundo (o "estrangeiro", como refere). Indeciso, sem garra, deixa-se levar e até manipular, pelas vontades dos outros .

Gostei desta leitura. Escrita inconfundível de Afonso Cruz. Possuidor de uma larga cultura, é com gosto que se leem os seus escritos. Escritos esses que me fazem sempre procurar informaçōes na Wikipédia. Desta feita foi sobre o Cambodja, Pol Pot e os crimes por ele cometidos.

Outra das características que encontro neste escritor é, frequentemente, dizer certas coisas ao leitor sem as referir por palavras. É algo que paira no ar, que o leitor pressente, subentende. Acho isso fantástico! Contar uma parte importante da história sem nada dizer directamente. Muito bom!

Tenho de vos confessar que as últimas páginas fizeram com que alterasse as estrelas que pensei dar a partir  da leitura de metade do livro. Se antes eram cinco, passaram indubitalvelmente para seis! Que final! Aprontem os vossos coraçōes. Este é um final à "Afonso Cruz"! Quem já leu algumas obras do autor vai perceber o que digo. E Afonso, explica lá o título que eu nāo cheguei lá...

Terminado em 9 de Fevereiro de 2019

Estrelas: 6*

Sinopse
Um pai que se dirige à filha e lhe conta a sua história, que é a história de ambos, revelando distâncias e aproximando-se por causa disso, numa entrega sincera e emocional.

Uma viagem até aos confins do mundo, até ao Vietname e Camboja, até ao território que antigamente se designava como Cochinchina, para encontrar e perceber aquilo que está mais perto de nós, aquilo que nos habita. Um pai que ergue muros de silêncio, uma mãe que faz arco-íris de música, uma criada quase tão velha como o Mundo, um amigo que veste roupas de mulher, uma amante que carrega sabores e perfumes proibidos. São estas algumas das inesquecíveis personagens que rodeiam este homem que se dirige à filha, que testemunham - ou dificultam - essa procura do amor mais incondicional.

Uma busca que nos leva a todos a chegar tão longe, para lá de longe, para nos depararmos connosco, com as nossas relações mais próximas, com os nossos erros, com as nossas paixões, com as nossas dores e, ao somar tudo isto, entre sofrimento e júbilo, encontrar talvez felicidade.

Cris

4 comentários:

  1. Li pouco de Afonso Cruz, mas li este. E, curiosamente, postei precisamente isso há dias - o final não faz qualquer sentido... o livro tinha tão mais potencial!

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    Respostas
    1. Bárbara é o Afonso... já leste o dos guarda-chuvas? O final é BUM!

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    2. não li, mas falaram-me muito bem desse. o final também estraga tudo?

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    3. Sabes Bárbara, os finais do Afonso ou se amam ou de odeiam. Não há como ficar indiferente. Se gostas de finais certinhos, então nao leias este. Para mim um final diferente, q o leitor não esteja à espera vale ouro... e este definitivamente é diferente! Beijinho

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