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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

"A Noite Passada" de Alice Brito

Já nāo me devia surpreender a escrita de Alice Brito.

Desta feita achei-a mais acutilante, mais crítica, mais política, mais livre do que as dos seus livros anteriores, que adorei, pelo menos do que eu me lembro porque já os li aquando da sua "saída". O tempo tem o condāo de tornar tudo difuso e de nos fazer esquecer... Mas aqui está ela, inconfundível: uma escrita de fazer inveja. A sua forma de se expressar é bastante sui generis, com uns laivos de desbragamento que lhe conferem um toque único e especial que muito me agradam. O humor também está presente. Fino e aguçado.

Um narrador que me fez sorrir muitas vezes, que me fez reler algumas frases. Possuindo, por um lado, um discurso vernáculo mas com muito sentido e nada excessivo, e por outro, um que nos faz procurar no dicionário aquela palavra que, pelo sentido, achamos saber o seu significado mas queremos confirmar. Só quem domina muito bem a língua portuguesa pode ir dos 8 aos 80 sem que o leitor se sinta ofendido ou inculto.

Nas primeiras três folhas o leitor anda à deriva. Pequenos textos com os quais nāo nos conseguimos situar de todo. Depois a história arranca. A essas três páginas havemos de voltar mais tarde, depois de lido 1/3 do livro. Foi assim que fiz e, para mim, fez todo o sentido. Voltei a elas mais tarde quando as últimas páginas se fecharam nas minhas māos. 

A história narrada abarca um período de Portugal que, se bem que nāo muito afastado dos nossos dias (o que sāo cinquenta/sessenta anos?) muitos tendem a esquecer, ou porque a memória é posta de lado quando relembrar nāo é agradável ou porque já nāo o viveram. Começa por retratar o Portugal dos anos 50 e avança para as décadas seguintes. Foram tantos os pormenores que relembrei, tantos os que nāo fazem parte dos nossos dias...

Mesclados com a história principal, surgem laivos de outra história (distinguivel pela escrita em itálico) que só bem mais perto do fim começa a fazer sentido. Mas o mistério acompanha o leitor durante o livro todo. Quem sāo estes personagens que aparecem em pequenos trechos e que relaçāo possuem com os da história principal? Porém a revelaçāo final é deixada para as últimas folhas. Surpresa e entendimento. Um puzzle que se encaixa e completa, no fim e por fim. Um livro que me deu muita pica a ler.

Juntas, a Política/História de um povo e uma história bem narrada. Parabéns, Alice! Super recomendo!

Terminado em 7 de Fevereiro de 2019

Estrelas: 6*, sem dúvida alguma!

Sinopse
Um romance de amor poderoso num Portugal que ansiava pela liberdade.

Tendo Lisboa como ponto de partida, a autora conta-nos a história de uma jovem, Amélia, de famílias respeitáveis, que põe o futuro e a honra a perder quando se deita com um agente da PIDE de modos delicados e linguagem sedutora, mas capaz das maiores crueldades.

Um livro imperdível, com uma escrita fluida, que lembra a aclamada série da RTP, Conta-me como Foi, cheio de histórias de heróis e vilões anónimos, preconceitos e modas arrojadas, e o grande sonho da liberdade.

Cris

1 comentário:

  1. Quero muito ler este livro pela época que retrata e fiquei bastante curiosa com a escrita da autora pela descrição que dela faz.
    Como me identifico com "procurar no dicionário aquela palavra que, pelo sentido, achamos saber o seu significado mas queremos confirmar", pensava que era uma mania minha mas pelos vistos não sou a única ;)

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