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domingo, 12 de junho de 2016

Ao Domingo com... Samuel Pimenta

Parábola

Foi-me particularmente difícil chegar aqui. Sim, aqui, ao lugar que é este texto. É preciso ser conhecedor dos caminhos para conseguir chegar aos lugares onde existem os textos que ainda não foram escritos. É preciso ter o fio de Ariadne. E como é hábito eu caminhar, sei que há lugares mais inacessíveis, ou que gostam de impor obstáculos, para demorarmos mais a encontrá-los. Este texto teve alguns. Escrever na primeira pessoa? E sem ser pela voz de uma personagem? Escrever sobre mim? Logo percebi que não seria fácil.

Sabendo-se na inevitabilidade de escrever um novo texto, a minha mente assumiu o controlo de imediato. Que vais escrever?, perguntava ela. Escreve sobre isto, escreve sobre aquilo. Também podes ir por aqui. Ou por ali. Mas não fui por lado algum. Parei de caminhar e sentei-me, à espera. Como tem estado muito calor e uma luz exuberante, fui evitando olhar para a folha em branco. Os dias vigorosos esgotam-me, prefiro o frio e a luz difusa para trabalhar. Mas a proximidade da data de entrega do texto forçou-me a retomar o ofício da escrita e a resgatar o domínio sobre a mente controladora. Que posso dizer no texto?, perguntei-me. Que tenho para dizer?

Para chegar a um texto, são muitos os caminhos, mas nem todos nos servem. Eu só gosto de percorrer os que me dizem respeito. Podem ser fáceis ou difíceis, mas são os meus. E num tempo em que as palavras parecem ser tão vulgarizadas, tão plásticas e vazias de sentido e pertença, é importante – para alguém como eu, que escreve – não fazer de uma oportunidade de escrita mais um momento de desvalorização dessa coisa tão antiga que é a palavra. Não queria escrever apenas por escrever. É que a palavra - do latim, parabola – é o discurso, a fala. E é pela palavra que melhor comunicamos, que chegamos ao outro e nos damos a conhecer.

Por essa razão me levantei e retomei o caminho. E depois de chegar aqui, a este lugar, percebi que um texto, mesmo quando escrito por brincadeira, pode dizer muito sobre nós. Ou não fosse a parábola uma forma encriptada de discursar.

Alcanhões, 9 de Junho de 2016 – 23h52
Samuel F. Pimenta

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