O que dizer quando um livro nos aprisiona nas suas páginas sem o esperarmos? Quando ficamos literalmente apaixonados não por um mas por vários personagens? Quando a história está tão bem contada que mais parece uma transcrição de uma parte da própria História de Portugal e do Brasil?
Vou dar nota máxima, claro!
Tirando o primeiro capítulo (que nos conta como Vasco Lacerda, médico de profissão, para fugir a um amor doentio e sem futuro, sai de Portugal e decide ir para o Brasil) que me pareceu o mais "leve" de todos os capítulos no que concerne ao seu conteúdo, todos os outros são de uma veracidade tão intensa que foi-me completamente impossível manter-me afastada da história. Mergulhei profundamente nela, senti as dores do médico e as dos escravos que se cruzaram com ele nessa viagem e noutras que involuntariamente acabou por fazer.
Esse mergulho levou-me a 1830, aproximadamente, ao tempo onde em Portugal fervilhavam guerras entre miguelistas e liberais. No Brasil, a escravatura estava em pleno nas suas fazendas do interior e os navios negreiros viajavam para África para comprarem mão-de-obra.
Ler aprendendo, como gosto. Uma lição de História dentro de um romance que me fez apaixonar por Sara, Quisama, Januário e até Gaspar, escravos de corpo mas não de alma, e também de Vasco, o doutor dos brancos que defendia os escravos.
Um livro que aconselho vivamente. Tenho dois livros deste autor na estante à espera: Uma Fazenda em África e Os Dias da Febre. Fiquei muito curiosa. Gostei da escrita sólida, descritiva q.b. sem enfadar, repleta de curiosidades e pormenores que julgo serem dados históricos e do ritmo da narrativa. Leiam e vejam por si mesmos!
A minha opinião doutro livro do autor: "O Estranho Caso de Sebastião Moncada" aqui.
Terminado em 15 de Novembro de 2015
Estrelas: 6*
Sinopse
Tudo começa na Primavera de 1833. Profundamente abalado por um desgosto de amor, o doutor Vasco Lacerda decide abandonar Lisboa para tentar curar o coração ao sol de uma nova vida, nos trópicos. Contudo, no decurso da sua viagem, vê-se arrastado, contra vontade, para o mundo da escravatura e toma contacto directo com realidades de que já ouvira falar, mas que nunca tinha sentido e percebido na sua verdadeira natureza. E trava, também, conhecimento com a gente que, para o melhor e o pior, povoa esse bárbaro mundo: Tarquínio Torcato, o cruel negreiro; Gaspar, o negro que odeia negros; Sara, a escrava que acende o desejo em todos os homens; Quisama, a pretinha que tudo quer aprender; Januário Paraíso, o velho cocheiro que canta canções de amor; e muitos outros e outras que enchem de afectos e de vida um universo de horrível desumanidade.
Do Outro Lado do Mar leva-nos numa viagem emocionante por esse universo, dos sertões de Angola às fazendas do Brasil, do ventre do navio negreiro à fábrica de açúcar, e mostra-nos como mesmo nos sítios mais improváveis e nas situações mais extremas podem nascer e crescer a solidariedade, a abnegação e fortíssimas relações de amor.
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