"A Pesca do Salmão no Iémen", de Paul Torday é uma obra bem-humorada, ou não fosse o seu autor cidadão britânico, mas que faz refletir em assuntos muito pertinentes, como sejam as atitudes e os comportamentos dos políticos e as relações entre os povos organizadas pelos governos, e que se baseiam quase sempre em interesses pessoais ou partidários.
A história contada através de cartas, diários, relatórios e comissões de inquérito, não existindo portanto narrador, é um tanto ou quanto insólita mas muito criativa e interessante. Na realidade a ideia que um xeque milionário iemenita tem de implementar a pesca do salmão no Iémen, país onde a água é escassa e os desertos muitos, parecia logo de início fracassada. Ele achava que o projeto poderia trazer não só muitos benefícios para o seu povo com poderia fortalecer as relações do seu país com o Reino Unido e provar que este, quando se tratava do Médio Oriente, não se preocupava apenas com petróleo e guerras. Os responsáveis do governo entusiasmam-se e dão o seu apoio através de um investigador da área das pescas, que a princípio se opõe à ideia, mas obrigado pelos superiores a interessar-se, acaba ele próprio por se entusiasmar. Este projeto origina muitas reclamações por parte das associações da pesca do salmão e levanta questões na imprensa e na Câmara dos Comuns o que faz muitas vezes o governo recuar no apoio dado. Contudo, após avanços e recuos, pensando que o sucesso do projeto traria muitas vantagens para o partido, o Primeiro-Ministro resolve envolver-se e até participar na inauguração da pesca do salmão no Iémen para poder ser fotografado com o primeiro salmão pescado. Após muitas peripécias, dificuldades e muito dinheiro despendido para fazer chegar salmão ao Iémen em condições climatéricas indispensáveis e que o leitor acompanha ao pormenor, tudo parece indicar que finalmente a iniciativa será um sucesso. Na última hora, na época das chuvas, quando se espera que as águas do rio tenham um fluxo normal eis que surgem grandes enxurradas que arrastam peixes, pessoas, primeiro-ministro e xeque incluídos, terminando, assim, o sonho em tragédia um tanto ou quanto divertida.
O autor introduz ainda a história pessoal do investigador Jones e de sua mulher que se encontra numa fase crítica após vinte anos de casamento e de sua colega Harriet que namora um militar. Este a prestar serviço no Iraque é incumbido com alguns colegas de uma missão clandestina no Irão sendo presos e mortos. O governo nega tudo. Há também uma referência ao recrutamento de terroristas para matar o xeque. São episódios que se acompanham através do ponto de vista do governo e da imprensa e que suscitam uma reflexão por parte do leitor sobre a desonestidade política e os interesses militares.
Apesar das coisas sérias que aborda é um livro imensamente divertido. Gostei!
Maria Fernanda Pinto
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