O sérvio Zoran Živković tornou-se conhecido dos bibliófilos graças ao pequeno livro de contos intitulado "A Biblioteca" tendo-lhe valido a atribuição do World Fantasy Award.
Basta ler o primeiro conto "A Biblioteca Virtual" para o leitor rapidamente perceber que o universo de Zoran Živković é de facto o mundo fantástico que tenta em certa medida articular com a realidade muitas vezes incompreensível. Qualquer rasgo de inverosimilhança é, pois, associado à essência das obras do escritor sérvio, tornando-se o leitor um incondicional apreciador das suas obras, daí que seja sempre um acontecimento a publicação de um novo livro do escritor.
No caso específico de "A Biblioteca", o livro regressou novamente às livrarias nas últimas semanas com uma nova capa que merece toda a atenção dado fazer jus à ideia geral que apresenta.
A par deste agradável regresso, foi também publicado um novo romance de Zoran Živković intitulado "O Grande Manuscrito" que tem novamente como principal personagem o Inspector Dejan Lukić a quem é atribuído um novo caso de investigação com um forte cariz literário à semelhança do que já tinha acontecido com o insólito "O Último Livro".
Não entrando em pormenores até para manter a curiosidade de mais um livro incontornável de Zoran Živković, o Inspector Dejan Lukić terá agora de desmontar um curioso, interessante e até perigoso puzzle que mistura não poucas vezes a ficção e a realidade, entrando no domínio do fantástico, do sonho e da ilusão.
Como conseguirá o Inspector Dejan Lukić desvendar o mistério do desaparecimento da escritora de policiais Jelena Jakovljević cuja casa se encontrava fechada por dentro? Que explicação encontrar no telemóvel sem bateria e sem cartão SIM que recebe e envia mensagens? O que tem de extraordinário "O Grande Manuscrito" que tantos interessados maliciosos tudo fazem para lhe deitar a mão? Quem é de facto Jelena Jakovljević?
Se juntarmos a todos estes enigmas o facto de este livro ter-se tornado na sequela de "O Último Livro" anteriormente publicado, nem o próprio Inspector Dejan Lukić sonharia alguma vez com o desfecho, do mesmo modo que concluirá que o passado inevitavelmente lhe baterá à porta com vista à resolução de algo pendente e inesperado.
Com "O Grande Manuscrito" fica a garantia de momentos únicos de prazer à conta de um policial fora do comum como somente Zoran Živković nos tem habituado, além de que quem ainda não leu "O Último Livro" será certamente desta vez que não o deixará fugir. Mas cuidado!
Excertos:
"- Estamos a falar do maior desafio que se pode colocar a quem… quem tiver um interesse especial por fechaduras. Nunca ninguém conseguiu fechar à chave do lado de fora uma fechadura que tem uma chave por dentro. Quem o conseguir fazer, tornar-se-á famoso. Famoso em certos meios, claro, mas não menos cobiçado por isso. Por conseguinte, não é de admirar que haja quem tenha recorrido aos mais variados embustes.
- Como por exemplo?
- Normalmente há outra forma de sair do local que está fechado por dentro.
- Mas não há outra saída da casa da Menina Jakovljević. Tem quatro janelas, mas estavam todas fechadas.
- Pode ter uma saída na qual o colega não tenha reparado. Temos de saber o que procuramos para conseguirmos encontrar essa coisa." (p. 61)
"- Jelena Jakovljević deve escrever romances realmente muito empolgantes, visto que os seus leitores não têm paciência para esperar pela publicação do livro e chegam ao ponto de invadir o seu
computador para obterem o manuscrito. Deve ser terrivelmente invejada por todos os escritores.
(…)
- Não são leitores normais.
- Pois não. Os leitores-ladrões não são nada normais.
- Não é isso que os torna excepcionais.
- Então, o que é?
- Dariam tudo para ser os primeiros a ler o manuscrito.
- Não percebo. Porque é que têm tanto interesse em ser os primeiros?
(…)
- Porque este pode ser o Grande Manuscrito." (p. 83)
Texto da autoria de Jprge Navarro
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