Bach
de Pedro Eiras
Este é um livro que gravita em torno do genial compositor, assente em catorze tentativas de aproximação à sua música.
Tentativas: uma carta de Anna Magdalena, uma cena de montagem de um filme, as conversas de técnicos de som em Nova Iorque, os pensamentos de Etty a caminho do campo de concentração, até ao silêncio. Intérpretes, biógrafos, romancistas, ouvintes – regra geral, nunca se encontraram e apenas a presença da música, em séculos diferentes, os aproxima, e a eles de nós. Mas qual música, qual linguagem, beleza, angústia e desespero – se ela é a pesquisa para o intérprete, pretexto para o guerreiro, última companhia para aqueles que vão morrer?
«Os apartamentos parecem maiores, agora. Os cravos, a espineta, o alaúde já não estão connosco, nem os violinos e as violas da gamba: o meu falecidoesposo ofereceu três instrumentos de tecla a Johann Christian, que os levou; quanto aos restantes instrumentos, foram partilhados pelos irmãos, logo depois de se lavrar o inventário. Um dia vieram dois homens buscar a espineta, e na parede onde ela esteve encostada tantos anos ficou uma sombra mais clara, por o sol nunca bater ali, e um risco de tinta vermelha, raspada na parede. Sigo o risco vermelho com os dedos, esforço-me por me lembrar do som.»
Longe de Veracruz
de Enrique Vila-Matas
Romance de uma viagem imóvel numa geografia de sonho, tão verdadeira como fantasmagórica, Longe de Veracruz é um texto inebriante e insone que Enrique Vila-Matas domina com brio e fantasia. Aqui, alguns seres inesperados — uma bela cantora de bolero assassina, um dentista alcoólico, um chulo, um cabeleireiro fascista, o escritor mexicano Sergio Pitol — gravitam à volta de três irmãos rivais no amor, na arte e na vida e que, como Don Juan, ostentam o nome Tenorio. Neste livro, o autor demonstra-nos, mais uma vez, que só transmutado pelas armadilhas da literatura o real se torna suportável.
«Encontram-se aqui muitos dos subtemas preferidos de Enrique Vila-Matas, o contexto familiar, a obsessão pelas viagens, os constantes brindes e alusões ao mundo da literatura contemporânea, os jogos eróticos e sexuais que banalizam as maiores tragédias, o contínuo apelo ao humor, a um sarcasmo que nega a gravidade do que se está a narrar.» ABC Literario
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