"Discuti com o seu autor os pormenores do enredo, reli-o; não me parece uma imprecisão ou uma hipérbole classificá-lo como perfeito."
Jorge Luis Borges
O que acontece a cada momento que vivemos? Para onde vai? Perde-se na dimensão do espaço e do tempo? É certo que a recordação dessas vivências funcionam como garantia de um passado vivido. Mas serão as recordações objetivas de momentos idos e consequentemente fiáveis? E se aquilo a que comummente designamos por recordações nada mais é do que fruto da nossa imaginação? E se estivermos alucinados? Qual é a nossa verdadeira noção de realidade de estivermos num manicómio? Conseguiremos distinguir com clarividência o que real e o que é fruto da nossa imaginação? E nesse caso, em que lugar ficam as nossas recordações?
E se nos for dada a possibilidade de imortalizar as nossas vivências imortalizando-nos a nós mesmos? Tentando ser mais objetivo: e se fosse possível reproduzir o nosso dia-a-dia graças a cópias de momentos anteriormente vivenciados por nós? Havendo máquinas próprias para o efeito, será que embarcaríamos num tal processo com vista à imortalidade do ser humano? A ser possível tamanha façanha, impunha-se um outra maquinaria especializada em dar consciência à reprodução das vivências anteriormente conseguidas.
Conseguiremos alcançar pequenos Édens?
Estas são algumas das questões levantadas por Adolfo Bioy Casares no seu primeiro romance A Invenção de Morel (1940) que colocam o autor num dos lugares de destaque da literatura da América Latina contemporânea tendo almejado um enorme reconhecimento um pouco por todo o mundo.
As obras de Adolfo Bioy Casares são habitualmente associadas ao fantástico, misturando com frequência o sonho e a realidade levantando frequentes vezes questões de índole ético-moral como no caso específico da obra em apreço.
A Invenção de Morel é uma obra singular que remete o leitor para o mundo da ciência em articulação com a tecnologia no intuito de alcançar a imortalidade e consequentemente o amor eterno independentemente das questões éticas que subjazem às ideias apresentadas.
Em traços gerais, A Invenção de Morel retrata com amor, tecnicidade e fantasia os grandes temas-preocupação da Humanidade ao longo da História: a imortalidade.
A Invenção de Morel constituiu certamente o ensaio prévio para a publicação de Plano de Evasão (1945), outra obra notável de Adolfo Bioy Casares que nos apresenta um thriller de cariz filosófico sem igual.
"Ao homem que (…) invente uma máquina capaz de reunir as presenças desconjuntadas, farei uma súplica: procure-nos a Faustine e a mim, faça-me entrar no céu da consciência de Faustine. Será um ato piedoso."(p. 123)
Texto da autoria de Jorge Navarro
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