Arde o Musgo Cinzento (1986) é a única obra de Thor Vilhjálmsson editada em Portugal e tal aconteceu somente em 2012.
O escritor parte de um caso verídico de incesto entre dois meios-irmãos que aconteceu numa pequena região da Islândia no final do século XIX e que chegou ao tribunal após ser do conhecimento da população em geral, dando-nos a conhecer simultaneamente um país pobre, mas em fase de transição que sente necessidade em romper com a Dinamarca enquanto país colonizador. A população ganha a consciência de que só será verdadeiramente livre e rica quando investir na educação, a verdadeira riqueza de um país, desenvolvendo, dessa forma, a ciência e tecnologia que ajudará a Islândia a tornar-se não só independente, como também podendo rivalizar economicamente com outros países, deixando para trás as tradições assentes em mitos e sagas que tinham a natureza como principal papel em detrimento do homem.
Arde o Musgo Cinzento faz-nos refletir sobre o percurso de cada um enquanto indivíduos inseridos numa dada sociedade, assim como qual o percurso que cada país deverá tomar em busca do desenvolvimento e da riqueza, melhorando, dessa forma, as condições de vida dos seus cidadãos.
Em conclusão, esta é uma obra completa abrangendo esferas tão diversas como a política, a justiça, a religião e a poesia, sendo, pois, uma referência incontornável na literatura contemporânea ocidental.
Excertos:
"No conhecimento é que está o poder. Que vos tornará livres. A ignorância é o pior tirano da humanidade, um demónio." (p. 78)
"Ali não havia ninguém que se escandalizasse porque agarrava num livro para nele mergulhar. E naquela quinta da charneca não se limitavam a ler livros, rompiam o isolamento com os livros. Ali discutiam-nos e analisavam-nos em profundidade. Ali não ficava cada um encolhido no seu canto como mensageiro de alguma desgraça, os pobres não eram hóspedes indesejados, ali reinava a concórdia entre as pessoas, e o homem era a alegria do homem." (p. 106)
"Todas as nações estão a levantar-se por todo o mundo; as massas rompem as cadeias e reclamam os seus direitos, nada poderá detê-las. As formas de vida do passado caem em fanicos, as correntes são quebradas uma após outra e atiradas para um monte para que se erga uma montanha de correntes destruídas como um monumento que recorde os tempos negros do passado." (p. 232)
Jorge Navarro
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