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Foto de Mário Pires |
Na minha vida escrevi dois livros e alguns contos. Não tenho portanto aquilo a que se possa chamar uma 'obra', até porque o primeiro é um romance que escrevi por iniciativa própria e o segundo um testemunho humorístico que escrevi em resposta a um convite. Mas, entre um e outro, produziu-se em mim uma mudança profunda na forma de encarar a escrita: passei a ser escritora. Não no sentido de estatuto, mas no sentido de me definir interior e exteriormente como tal, de encarar a escrita como sendo, de longe, a actividade mais importante da minha vida.
Demorei muitos anos a ter coragem para tentar escrever, porque sentia que ainda não tinha encontrado a minha identidade, aquela característica única que distinguisse os meus livros dos de qualquer outro escritor.

E agora fico imensamente feliz quando alguém observa que detectou na minha escrita laivos de algum deles - porque sei que são laivos, são tributos, e não um pastiche.
De resto, não tenho o problema de muitos ecritores para quem a escrita é uma experiência dolorosa. Escrever dá-me um prazer profundo, quase sexual, quase um transe. Saio sempre dele exausta e feliz. Só tenho pena de não ter mais tempo - por enquanto - para me dedicar à escrita. E nunca, mas nunca cessa de me surpreender que um prazer tão intenso, tão íntimo e tão meu dê prazer a outras pessoas. É um privilégio.
Ana Saragoça
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